Falta de interesse pelas OTRV não surpreende DECO. "Espero que o Estado aprenda a lição"
O Estado apenas angariou 612,2 milhões de euros dos mil milhões pretendidos com obrigações de rendimento variável. DECO diz que falta de interesse também mostra maior literacia financeira dos portugueses.
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Na história das Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV) nenhuma tinha falhado o objetivo inicialmente definido pela Agência de Gestão da Tesouraria e Dívida Pública - IGCP. O Estado pretendia angariar mil milhões de euros com obrigações de rendimento variável, mas só 612,237 milhões entraram para os cofres do Estado pelas mãos de 24.149 investidores.
Para António Ribeiro, analista financeiro da DECO-Proteste, é simples entender o que se passou: "Não surpreendeu do ponto de vista do interesse, porque, de facto, estas OTRV não eram assim tão interessantes. Aliás, logo no início fizemos uma análise e comparámos com certificados de aforro, até com as obrigações do Tesouro normais, digamos assim, e até com depósitos a prazo, e rendiam menos. Além disso, tinham comissões mais elevadas. Portanto, do ponto de vista do rendimento não havia grande interesse nem da liquidez, nem do capital garantido".
Na operação apenas 20% do montante foi captado através da troca de OTRV antigas o que, para o analista da DECO se explica devido ao spread baixo. "Estas OTRV pagam um cupão semestral, que é a taxa Euribor a seis meses mais um spread. E esse spread nesta emissão é apenas de 0,25. Nas emissões anteriores, o spread era bastante superior. Aliás, na anterior era de 1%. E noutras, ainda mais atrás, chegou a 2%. Portanto, se calhar muitas pessoas que tinham a emissão anterior preferiram não transferir e se calhar subscrever certificados de forro que eram mais interessantes", refere em entrevista ao Negócios no NOW.
Por outro lado, António Ribeiro sublinha que a falta de interesse pode ter uma leitura positiva, ou seja, mais literacia financeira por parte dos portugueses.
"Revela pelo menos que as pessoas já entenderam a mensagem e o conceito. Acho que o Estado foi um bocadinho ambicioso na taxa de juro tão baixa que queria ter neste título de dívida pública. E não correu assim tão bem. Espero que aprenda a lição e que se calhar os portugueses estão um bocadinho mais atentos e já não subscrevem estes produtos que não têm assim tanto interesse", afirma.
António Ribeiro acredita, contudo, que este não é o fim das OTRV, "mas a lição deverá ser aprendida e se calhar nas próximas emissões aquele prémio adicional que acresce à Euribor deverá ser superior, porque esse prémio é o que compensa a falta de liquidez e o facto de não termos capital garantido naquele produto".
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