A Fertiprado e os cocktails de microorganismos
Em 1990, o engenheiro David Crespo, hoje com 93 anos, criou a Fertiprado, uma empresa de sementes e nutrientes com uma visão pioneira de sustentabilidade agrícola, numa época ainda marcada pela “industrialização, química e tratamentos para maximizar a produção sem preocupação com a sustentabilidade”, recorda Joel Presa, diretor de Estratégia e Desenvolvimento de Produto da Fertiprado. Explicou que a empresa “nasceu para não ser mais uma empresa de sementes, mas sim para vender soluções”, oferecendo “misturas biodiversas que articulam diferentes conhecimentos” e adaptadas às especificidades mediterrânicas. Em 2024, a Fertiprado recebeu o Prémio Nacional de Agricultura na categoria de Inovação de Produto.
O negócio começou por responder às necessidades de melhorar a produção de forragens e de alimento para animais através da cobertura de solos. “A partir de um conhecimento profundo da genética do ciclo das variedades e da articulação entre várias espécies criámos misturas biodiversas”, refere Joel Presa. Mais tarde, a oferta estendeu-se aos solos da vinha e do olival, à agroindústria do tomate, aos horto-industriais e à floresta. “Trabalhamos com o solo, que é um bem de todos, e é importante preservá-lo.”
PUB
A diferenciação fazia-se pela utilização de “sementes e misturas biodiversas ricas em leguminosas, como os trevos, com capacidade de captar em simbiose bactérias rizóbio, que fixam o azoto da atmosfera e introduzem-no no solo, promovendo fertilidade”. Esta abordagem era “contra a corrente” nos anos 90, mas hoje é reconhecida pela sua sustentabilidade.
Sediada na Herdade dos Esquerdos, em Vaiamonte, Portalegre, a Fertiprado nasceu de circunstâncias familiares e da necessidade de desenvolver soluções para o clima mediterrânico, onde “as soluções propostas no mercado eram do centro e norte da Europa, onde está verde todo o ano, não se aplicando ao Alentejo”. A empresa posiciona-se internacionalmente como referência “no panorama das soluções para ambientes mediterrânicos, face ao avanço da desertificação do Saara”. Hoje está presente em Espanha, Itália e Uruguai.
PUB
A inovação centra-se agora na microbiologia, desenvolvendo “cocktails de microrganismos como bactérias e fungos para juntar à semente e melhorar a resiliência às alterações climáticas e ataques de pragas”. Joel Presa salientou que “o conhecimento não se faz sozinho na empresa. Procuramos ser criteriosos em encontrar os parceiros certos para investigar e desenvolver”. O departamento de I&D é estratégico e a ambição “passa por gerar já um portfólio bastante alargado, quase um programa 365, para responder em qualquer altura do ano e em qualquer área de produção”.
A Fertiprado está prestes a concluir uma nova unidade industrial “com maior capacidade de produção e tecnologicamente mais moderna, que nos vai permitir também agregar outros processos às sementes e acrescentar mais valor, tanto ao nível industrial como em termos de capacidade de produção”, concluiu Joel Presa.
Saber mais sobre...
Saber mais Alterações climáticas Agricultura Produção industrial Ambiente Alentejo Itália Deserto do Sara UruguaiMais lidas
O Negócios recomenda