Há dependência externa em produtos essenciais
Ana Dias sublinhou que o Prémio Nacional de Agricultura dá “visibilidade a quem, muitas vezes, muito longe dos centros de decisão, faz a diferença no terreno”.

O setor agrícola “está muito mais desenvolvido, muito mais competitivo e contribui muito mais para a economia nacional”, assinalou Ana Dias, CFO da Medialivre, durante a sessão de lançamento da 14.ª edição do Prémio Nacional de Agricultura, uma iniciativa do Jornal de Negócios, Correio da Manhã e do BPI, com o alto patrocínio do Ministério da Agricultura e do Mar e apoio da PwC. Considerou ser um setor com vitalidade e diversidade, “que continua a reinventar-se e a apostar na tecnologia, a atrair talento, a afirmar-se para o desenvolvimento dos vários territórios nacionais e também para o emprego nas zonas rurais e para a nossa soberania alimentar”.
Ana Dias recorreu a dados do Instituto Nacional de Estatística de 2024, que referem que o rendimento da atividade agrícola cresceu 14,5% por unidade de trabalho, em termos reais. A produção aumentou 4,2% e as exportações de produtos agroalimentares subiram mais de 670 milhões de euros. Este crescimento contribuiu para melhorar a balança comercial do setor, com o défice agrícola e agroalimentar a fixar-se em 5.170 milhões de euros, representando menos 421 milhões de euros face ao ano anterior, resultante do crescimento das exportações face às importações.
Contudo, segundo Ana Dias, persistem desafios estruturais na dependência externa em produtos essenciais. “Quando analisamos o grau de autossuficiência em 2024, Portugal manteve autossuficiência no arroz, reforçou a posição em vinho e azeite, mas continuou muito dependente do exterior em áreas como os cereais, com somente 17,9% de autossuficiência, no leite e derivados, com 90%, e nos frutos, com menos de 70%”, sublinhou a CFO da Medialivre.
A atração agrícola
Ana Dias trouxe um dado relevante para a reflexão, relacionado com a estagnação do número de estudantes em agricultura, pesca, ciências veterinárias, silvicultura e floresta. Segundo a Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, “em 1995 e 1996 eram 8.974 inscritos; em 2023 e 2024 foram 8.674”. Apesar desta estabilidade aparente, entre 2005 e 2017 verificou-se “uma fase crítica em que caíram mais de 40% os inscritos nestes cursos. Nestes últimos seis anos assistimos a uma recuperação, que pode estar ligada, por um lado, ao reforço da oferta de cursos tecnológicos e técnicos nestas áreas”, disse Ana Dias.
A recuperação recente deve-se ao “reforço da oferta dos cursos tecnológicos e técnicos” e ao “crescente reconhecimento que a agricultura tem tido como uma área de futuro”. O Prémio Nacional de Agricultura, iniciativa do BPI em parceria com a Medialivre desde 2012, já avaliou mais de 12 mil candidaturas, mantendo-se “fiel aos dois pilares” que são a sustentabilidade e a inovação. Ana Dias sublinhou que a iniciativa dá “visibilidade a quem, muitas vezes, muito longe dos centros de decisão, faz a diferença no terreno”, reconhecendo a agricultura como “um pilar essencial no nosso futuro”.
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