"O sinal que se pretende dar é o valor do reconhecimento em vida, e identificar pessoas mais ou menos conhecidas que tiveram ou têm um papel de relevo na saúde em Portugal e, assim, ao longo de nove edições foram premiadas carreiras brilhantes e polifacetadas", diz Maria de Belém Roseira, ex-ministra da Saúde e, desde a primeira hora, membro do júri do Prémio Saúde Sustentável, uma iniciativa da Sanofi e do Jornal de Negócios.
Acrescenta Maria de Belém Roseira que "funciona também como uma chamada de atenção porque um país tem de saber estar atento aos feitos realizados pelas pessoas e a importância que a sua atuação tem e para perceberem porque é que houve mudanças em muitos dos indicadores da saúde. São muitas vezes pessoas que não são conhecidas do grande público mas que muitas vezes tiveram e têm muita influência e impacto na vida de milhares de pessoas".
Em 2011, na primeira edição do prémio, o primeiro galardoado com o Prémio Personalidade foi José Pereira Miguel, médico e professor, que se destacou no domínio da saúde pública, da epidemiologia e dos cuidados de saúde, depois de ser ter licenciado, especializado em Medicina Interna e doutorado pela Faculdade de Medicina de Lisboa.
Ao longo da sua carreira foi desempenhando importantes cargos públicos, dos quais se destaca o de diretor-geral da Saúde, alto-comissário da Saúde e Presidente do Conselho Diretivo do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. Por isso, um dia disse que via a sua vida profissional como "uma corrida de estafetas: corremos o melhor que podemos, passamos o testemunho em boas condições e a corrida segue, esperançosamente, com brilho e sucesso".
Pioneira no VIH
Maria de Belém Roseira sublinha que se Odette Santos-Ferreira, a segunda vencedora, tivesse tido uma outra projeção nacional e internacional teria provavelmente atingido o Prémio Nobel. "Foi condecorada primeiro pelo Estado francês, e, por outro lado, as mulheres eram colocadas um pouco de lado", diz.
A cientista portuguesa colaborou com o Instituto Pasteur de Paris onde desenvolveu treino nas técnicas de deteção do lymphadenopathy AIDS virus (LAV) na década de 70 e 80 do século XX. A partir da década de 80 toda a sua atividade científica se centrou no estudo da infeção pelo VIH/sida, em particular pela infeção do VIH tipo 2.
Esta descoberta, feita em colaboração com a equipa do Prof. José Luís Champalimaud, do Hospital de Egas Moniz, veio revolucionar o mundo do diagnóstico serológico e contribuiu para que Portugal e a Unidade de Retrovírus e Infeções associadas (URIA) se expandissem e concentrassem importantes linhas de investigação na área dos retrovírus.
Maria de Belém considerou ainda que Catarina Resende de Oliveira é uma neurocientista com investigação feita em Coimbra mas que preferiu investir mais na criação de equipas do que na sua própria carreira.
Membro do júri do Prémio Saúde Sustentável
A sua memória não esquece galardoados como João Rodrigues Pena, que foi um pioneiro dos transplantes, conseguindo através da alteração da legislação ter "uma capacidade de fazer transplantes e salvar a vida a milhares de pessoas". De facto, João Rodrigues Pena fez parte da equipa que conseguiu transplantar o primeiro fígado na Europa, em Cambridge, mas quando regressou a Portugal teve de lutar para conseguir que a legislação permitisse o transplante de órgãos o que aconteceu em 1975.
Mas só cinco anos depois "foi possível reunir pessoas e condições, sob égide da Fundação Gulbenkian, para iniciar um programa nacional de transplante renal, que é o mais urgente e é onde há mais prevalência. Passados 10 anos tínhamos feito 1.000", como disse numa entrevista ao Jornal de Negócios. Mais tarde criou a unidade de transplantação do hospital Curry Cabral, que é hoje uma referência a nível mundial, no transplante hepático, onde Eduardo Barroso também teve um papel de destaque.
As escolas de influência
Maria de Belém Roseira destaca ainda os que "deixam escola", e recorda como Sobrinho Simões, patologista de renome mundial, lidera o IPATIMUP, que produziu uma linhagem de especialistas e alberga, por exemplo, Fátima Carneiro, que em 2018 foi eleita pela revista The Pathologist como a patologista mais influente do mundo. Também lembra João Lobo Antunes que além de uma "carreira brilhante" na neurocirurgia, se destacou na cultura, na bioética, na investigação científica, e teve uma influência na disseminação de valores pelas instituições por onde passou.
"Há uma escola de excelência onde as pessoas acabam por fazer a sua carreira e se destacam em termos nacionais e internacionais porque há uma cultura de empenho, criatividade e inovação", afirma Maria de Belém Roseira.
O último vencedor do Prémio Personalidade foi Fernando Araújo, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário de São João no Porto e a principal justificação foi o facto de que, na liderança deste, "sofreu o impacto da primeira pandemia e as medidas que tomou definiram o rumo que acabou por ser assegurado para o país em termos estratégicos, organizacionais e de ação", disse Maria de Belém Roseira, durante a entrega do prémio em outubro de 2020.
"São personalidades que passam uma vida inteira dedicadas ao estudo, à investigação e às práticas para salvar vidas, que são extremamente valiosas, e por isso, devemos-lhe um reconhecimento", conclui Maria de Belém Roseira.
A galeria das personalidades
Os nove vencedores do Prémio Personalidade atribuído anualmente pelo júri do Prémio Saúde Sustentável, uma iniciativa do Jornal de Negócios e da Sanofi.
1.ª Edição
José Pereira Miguel
Nasceu em Lisboa a 18 de abril de 1947. Foi professor catedrático de Medicina Preventiva e Saúde Pública da FMUL, tendo ao longo da sua carreira desempenhado importantes cargos públicos, dos quais se destaca o de diretor-geral da Saúde, alto-comissário da Saúde e presidente do conselho diretivo do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.
2.ª Edição
Odette Santos-Ferreira
(4 de junho de 1925-7 de outubro de 2018)
Licenciou-se em Farmácia, doutorou-se na Universidade de Paris Sud, em França, e chegou a professora catedrática de Microbiologia em 1987. Na década de 70 e 80 colaborou com o Instituto Pasteur de Paris em investigações relativas ao VIH. Em colaboração com a equipa do Prof. José Luís Champalimaud, do Hospital de Egas Moniz, descobriu a infeção do VIH tipo 2. Foi coordenadora do Programa Nacional de Luta Contra a Sida entre 1992 e 2000.
3.ª Edição
João Lobo Antunes
(4 de junho de 1944, Lisboa-27 de outubro de 2016)
Licenciou-se em Medicina na Universidade de Lisboa. Esteve nos Estados Unidos, entre 1971 e 1984, e trabalhou no departamento de Neurocirurgia da Universidade de Columbia, onde foi professor associado. Regressou a Portugal em 1984 como professor Catedrático de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina de Lisboa. Em 1990, foi vice-presidente para a Europa do World Federation of Neurosurgical Societies. Em 1999, ocupou o cargo de presidente da Sociedade Europeia de Neurocirurgia e foi diretor do Serviço de Neurocirurgia do Hospital de Santa Maria, e presidente da Academia Portuguesa de Medicina e do Instituto de Medicina Molecular.
4.ª Edição
Manuel Sobrinho Simões
Nasceu no Porto a 8 de setembro de 1947. Licenciado em Medicina, e doutorado em Patologia pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Entre outubro de 1979 e julho de 1980 fez o pós-doutoramento em Oslo, no Norsk HydroŽs Institute for Cancer Research. Em 1989, criou o IPATIMUP (Instituto de Patologia e Imunologia Molecular e Celular da Universidade do Porto).
5.ª Edição
João Rodrigues Pena
Licenciado em Medicina pela Universidade de Lisboa, é um dos pioneiros dos transplantes em Portugal. Foi diretor da Unidade de Transplantação dos Hospitais Civis de Lisboa, inaugurou no Hospital Curry Cabral, em 1992, o programa de transplante hepático. Foi presidente da Autoridade para os Serviços de Sangue e Transplantação.
6.ª Edição
Francisco George
Nasceu em Lisboa, em 1947. Licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa, entre 1980 e 1991 foi funcionário da Organização Mundial da Saúde (OMS), tendo sido consultor em missões em diversos países. Nomeado subdiretor-geral da Saúde em 2001, chegou em 2005 a diretor-geral da Saúde, cargo que ocupou até 2017. Foi membro do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida, entre 2007 e 2010. Em 2004, foi designado membro do Conselho de Administração do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (Estocolmo).
7.ª Edição
Fernando Pádua
Nasceu em Faro em 1927 e depois da licenciatura em Lisboa graduou-se em Cardiologia pela Harvard University, Boston, EUA (1953), e foi professor catedrático da Faculdade de Medicina de Lisboa. Foi presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, de que é sócio e presidente honorário. Fundador e ex-presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia. Fundador e presidente do Instituto Nacional de Cardiologia Preventiva e da Fundação Professor Fernando de Pádua.
8.ª Edição
Catarina Resende de Oliveira
Nasceu em Coimbra em 1946 e licenciou-se em Medicina em 1970 e tornou-se assistente e médica. Em 1976, entrou para os serviços de neurologia do Hospital Universitário de Coimbra. Em 1984, doutora-se em Neurociências pela Universidade de Coimbra, onde chegou a catedrática e fez investigação no Centro de Neurociências e Biologia Celular. Nas neurociências, a sua investigação centrou-se no estudo dos mecanismos celulares e moleculares das doenças neurodegenerativas.
9.ª Edição
Fernando Araújo
Nasceu no Porto a 10 de julho de 1966 e é licenciado e doutorado em Medicina pela Faculdade de Medicina do Porto, pós-graduado em Gestão pela Universidade Católica Portuguesa e é especialista em imuno-hemoterapia. Foi administrador e presidente Administração Regional de Saúde do Norte e secretário de Estado Adjunto e da Saúde entre novembro de 2015 e outubro de 2018. Desde abril de 2019 que lidera o Hospital de São João.