A macumba do Sporting
Há quem acredite que, no futebol, tudo é uma questão de sorte e azar. Não é. Como dizia o imenso treinador brasileiro sr. João Saldanha, "se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminaria empatado".
Na falta de macumba em Portugal, os dirigentes socorrem-se de amuletos menos potentes: os treinadores e os craques. O Sporting é um excelente exemplo dessa busca do alquimista perfeito, capaz de transformar toneladas de chumbo em ouro. O sr. Godinho Lopes, quando se candidatou por detrás de um "projecto" - como os líderes costumam chamar a meia dúzia de ideias banais -, só teve uma forma de pedir que os holofotes incidissem em si. Prometeu o sr. Domingos Paciência, herói de batalhas em Braga, para treinador. Envergonhado, o sr. Domingos alimentou o tabu. Mas não imaginaria que o sr. Villas-Boas tivesse saído do FC Porto. Talvez a história tivesse sido diferente.
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Ancorado por dos pesos pesados do futebol nacional, o sr. Luís Duque e o sr. Carlos Freitas, o sr. Godinho Lopes adquiriu para o treinador, que, de alguma forma deu a vitória eleitoral (embora as claques também tenham tido uma especial atracção pelo agora presidente, numa espécie de amor à primeira vista fomentado pelo sr. Duque), 20 novos jogadores. O "projecto" avançava: um treinador ganhador, homens do futebol que se movem bem nos bastidores e no estimulante mundo das contratações, e jogadores que iriam "limpar" o balneário. O Sporting começou muito bem. Mas depois, em Dezembro, o sr. Domingos perdeu a equipa em Lazio com as suas "poupanças". Nunca mais teve uma equipa compacta e a sua queda no inferno começou aí. Não é fácil gerir uma legião estrangeira. Mas quando se perde o pulso, o fim é óbvio.
O "projecto" do sr. Godinho Lopes tinha outras debilidades: só haveria futuro se a equipa de futebol ganhasse dinheiro. Mas, com uma situação de falência técnica, o Sporting não só já disse adeus ao campeonato, como eventualmente não irá à Liga dos Campeões na próxima época. E é difícil que os seus jogadores (ou "activos", como agora é uso dizer) se tenham valorizado por aí além. Com resultados negativos no campo, sabe-se o destino do treinador: a "chicotada psicológica". Só que, através de uma desculpa notável (que o sr. Domingos estava em conversas com o FC Porto), avançou-se para o despedimento. O erro de comunicação foi de amadores.
Todos sabem que o sr. Domingos ama o FC Porto e dificilmente não será, um dia, o seu treinador. Ao cortarem a corda pelo elo mais emocional, e quase a pedido das claques, a direcção do Sporting não quis ver o óbvio. Ninguém contrata um treinador e 20 novos jogadores para, a meio da época, colocar tudo isso em causa. A menos que, indirectamente ou para se salvar a si próprio, o alvo final do sr. Lopes seja o sr. Duque e o sr. Freitas. Mostrando que eles erraram.
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