A dança das culpas
Prometer inquéritos rigorosos depois de um qualquer desastre é uma forma de atirar um facto para a máquina do tempo: nunca se saberá em que século aparecerá a conclusão.
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Na campanha que está a decorrer no estado de Chhattisgarh, na Índia, um dos candidatos promete, se ganhar, um smartphone em cada casa. Não é algo inédito. Em tempos não muito remotos, um político americano prometeu uma galinha em cada panela. E, por cá, já houve quem oferecesse frigoríficos aos eleitores. As promessas são a essência da política. Por isso não admira que, após a tragédia de Borba, se prometam inquéritos, investigações e muitas acções de fiscalização. Isto enquanto todos, de uma forma heróica, vão fazendo uma dança das cadeiras para ver quem fica de pé, atarantado, com as culpas. As desculpas são o Black Friday português: estão sempre disponíveis com descontos atractivos. Muitas vezes estão mesmo em saldos todo o ano. Prometer inquéritos rigorosos depois de um qualquer desastre é uma forma de atirar um facto para a máquina do tempo: nunca se saberá em que século aparecerá a conclusão. Se precisássemos de provas, veríamos o que se passa com Tancos. Inquéritos rigorosos são como as uvas da história da raposa: existem, mas estão verdes.
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