Os deputados Fantasmas
Na Assembleia da República temos sempre a impressão de que algo se move quando, na realidade, nada se está movendo. É por isso que ela é a sede da democracia portuguesa. Ilustra como nenhum outro órgão de soberania a inacção nacional. Assim o espanto nacional por os deputados considerarem que é normal faltarem ou a deserção colectiva em muitas e variadas sessões e votações, é cruel para com aqueles que foram eleitos pelo povo em listas feitas pelos chefes partidários. Muitos deputados estão lá apenas para fazer número. Muitos deles foram eleitos por círculos eleitorais que vagamente conheceram durante a campanha eleitoral. Karl Kraus, para chatear Freud, dizia que a psicanálise era a doença da qual ela julgava ser a cura. A doença do Parlamento é mais grave. É o caruncho com que alguns dos seus deputados corroem o sistema que deveriam defender, a democracia. Tudo isto, claro, porque como dizem os brasileiros com o seu saudável sentido de humor, os deputados não são eleitos, elegem-se. O triste espectáculo a que estamos a assistir, mostra apenas o nível a que chegaram os partidos nacionais. Neles, o clientelismo e o carreirismo são melhores do que a competência. Até porque uns servem como idiotas úteis e os outros poderiam colocar questões inquietantes. Não é por isso espantoso que tenhamos a AR polvilhada de deputados fantasmas. Eles existem porque interessam aos líderes partidários. O problema é que com tantos fantasmas, um dia destes a democracia fica cheio de medo e esconde-se.
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