Fernando Sobral fsobral@negocios.pt 26 de Agosto de 2010 às 12:06

Saber fritar peixe

As grandes nações devem ser governadas como quem frita peixes pequenos.

A frase, de Lao Tzu, é uma lição de exercício do poder: se mexemos muito nos peixes, quando os fritamos, acabamos por dar cabo deles. Os países requerem a mesma simplicidade de métodos, depois de se terem definido as grandes estratégias. Em Portugal falha tudo: nem há estratégia nem se sabe fritar peixes pequenos. Ciclicamente fazem-se grandes reformas legais no País, com o espalhafato devido. Acontece assim com as propostas de revisão constitucional, com os códigos penais e de processo penal e com milhares de leis avulsas que se sobrepõem e contradizem outras, criando a confusão. Não poucas vezes, no afã de legislar, criam-se situações ridículas. Parece que há uma lógica suicida em tudo isto: os políticos querem deixar a sua impressão digital na história. Quando se olha para o que sucede na prática, verifica-se que certas iniciativas legislativas apenas atravancam ainda mais a resolução das coisas. Paraísos construídos no papel são, em Portugal, devastados pela realidade nua e crua. Olhe-se para a destruição da Brigada de Trânsito, para a ordenação florestal, para a desertificação escolar da País, para os locais onde património com história cai de podre. Portugal continua sem um modelo económico estratégico consensual. E enquanto isso não existir viveremos ciclicamente em crises económicas, orçamentais e, sobretudo, de identidade. Para ser uma nação com sentido, Portugal precisa de saber aprender a fritar peixes pequenos. E deixar de investir em filetes congelados.

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