A legislação laboral sempre foi um terreno difícil em que não raras vezes se extremam posições. Portugal não é exceção, como o não é também a generalidade das democracias.
Dizia Voltaire que a arte da medicina consiste em distrair o paciente enquanto a natureza cura a doença. Aparentemente, também na política portuguesa há quem adote o mesmo princípio. Mas ambos estão enganados: até a natureza tem os seus limites…
Boa ou má, a precariedade não se combate por decreto, nem com taxas acrescidas, seja em Portugal, seja em qualquer outra parte do mundo.
Navegar à vista, aproveitando os bons ventos que sopram de fora, e distribuir prebendas pelas clientelas instaladas é fácil e rende no curto prazo. Mas não dura muito, como temos a obrigação de saber por experiência própria.
Regularmente, os blocos noticiosos dão eco a manifestações de insatisfação e de perplexidade perante a desfaçatez de quem tanto prometeu e tão pouco cumpriu.
Aparentemente ninguém antecipava uma tragédia como aquela que ocorreu em Pedrógão, fez ontem exatamente quatro meses. Disse-se então tudo e o seu contrário, prometeram-se análises, relatórios e uma completa identificação dos responsáveis.
Infelizmente, não se trata de um episódio isolado ou de um facto típico da "silly season" estival. Repete-se numa cadência em ritmo crescente, invariavelmente sob a capa de princípios e valores de adesão fácil.
Nada permite concluir que a "macromania" que varreu a paisagem política francesa, fazendo praticamente desaparecer o Partido Socialista do mapa e infligindo uma derrota inesperada à direita, foi apenas mais um daqueles aguaceiros de verão que rapidamente se esquecem.
A seu tempo saberemos (?) o que esteve mal, o que deveria ter funcionado e não funcionou e quem não fez o que devia ter feito.
O nosso país tem sido, felizmente, poupado ao rasto de terror e destruição que nos chega pelas notícias. Temos, claro, outros problemas e dificuldades. Mas as nossas "coisas más" são, na maioria dos casos, apenas desagradáveis e inconvenientes.
Para os Estados-membros "abandonados" o despeito inicial irá reforçar o propósito de união e a posição de muito pouca margem negocial.