PIB sem vacina depois da crise
A destruição de riqueza provocada pela pandemia arrasou grande parte das estruturas económicas e sociais do país em 2020. No próximo ano já se prevê alguma recuperação, mas tudo aponta para que a velocidade da retoma seja mais lenta em Portugal do que na média da Europa.
A economia portuguesa é das mais atingidas pela crise que a pandemia gerou. Nas previsões da OCDE divulgadas esta semana, Portugal surge no top 10 dos países mais afetados, com uma queda de 8,4% do PIB.
A dependência do turismo e dos serviços fortemente atacados por este tsunami, e que estão a ficar ainda mais debilitados pela segunda vaga do vírus, explica a derrapagem da atividade económica. O nosso principal parceiro, Espanha, tem a economia mais penalizada, com uma destruição de riqueza de 11,6 por cento.
Porém, tão grave como a queda prevista para este ano é a recuperação anémica prevista para 2021 e 2022. Um ritmo de 1,7% no próximo ano e 1,9% no ano seguinte é um desempenho medíocre. Por este caminho, nem em 2024 se recupera o nível real do PIB registado em 2019.
Parece não haver vacina com efeito rápido que recupere de modo célere a capacidade de produzir riqueza em Portugal.
Um país cada vez mais envelhecido, com uma dívida galopante e um PIB anémico é o que se perspetiva para a terceira década do século XXI. Não é um cenário brilhante.
Portugal aguarda ansiosamente os milhões prometidos por Bruxelas, mas que demoram por causa dos enredos entre várias instituições europeias e do pauzinho colocado na engrenagem pelos governos da Hungria e da Polónia, como a grande panaceia para a crise. Mas se o dinheiro não for bem aplicado, a ressaca desta crise pode ser ainda pior.
Se o Estado não se modernizar e adaptar a estrutura de custos e se os milhões europeus não forem aproveitados para melhorar a produtividade da economia portuguesa, o país ficará cada vez mais distante do nível médio de vida dos parceiros europeus.
Como se provou nas últimas décadas os milhões da Europa podem ter alterado a paisagem, com mais betão mais estradas e melhores automóveis, mas entretanto, Portugal foi ultrapassado rapidamente por grande parte dos Estados de Leste que aderiram à União depois da queda do muro de Berlim. Com as duas primeiras décadas do novo milénio com o PIB a evoluir a passo de caracol e agora com nova queda histórica, a fraca recuperação prevista para os próximos anos significa uma sentença de condenação do país à pobreza.
Mais lidas