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João Costa Pinto
31 de Julho de 2018 às 20:00

A economia portuguesa no "pós-troika" - (IV)

É do nosso interesse - responsabilidade - diversificar, em tempo útil, as fontes e os instrumentos de financiamento das empresas, como forma de ultrapassar os bloqueamentos actuais.

1. Como referi em artigos anteriores, são necessários ganhos de produtividade para mover uma economia - de forma sustentável - para níveis mais elevados de rendimento e bem-estar. De outro modo perde competitividade o que, a prazo, bloqueia qualquer progresso e pode mesmo forçar um retrocesso. A crise que trouxe a "troika" e a retracção da actividade económica é um exemplo.

Esta questão ganha entre nós uma importância crítica quando avaliada à luz da evolução desfavorável da produtividade. Caminho que, a prosseguir, significaria um maior afastamento dos níveis médios de desenvolvimento económico e social da Europa do euro. Além do enraizamento de uma estrutura produtiva com um peso crescente de actividades com uma oferta de emprego pouco qualificado e baixos salários.

O comportamento da produtividade - tanto a nível global e sectorial, como das empresas - depende de factores que, por sua vez, tendem a reflectir o nível de desenvolvimento económico e social: a taxa e o volume de investimento produtivo público e privado; a qualidade da gestão; a formação e o treino dos trabalhadores; a organização e o funcionamento dos mercados domésticos onde as empresas operam, que assume particular importância.

A acção sobre estes factores pressupõe políticas públicas capazes de acelerar o movimento de modernização do nosso tecido produtivo. Em particular, é no nosso caso crucial criar condições - fiscais, administrativo/regulamentares e institucionais - favoráveis ao afluxo de recursos financeiros ao investimento produtivo, desviando-os do investimento imobiliário especulativo e nalguns casos da dívida para consumo.

2. Neste quadro, o mecanismo de intermediação financeira implantado na nossa economia assume uma importância central. Como depende quase em exclusivo do mercado bancário - pelo menos no que respeita ao financiamento das PME - tem contribuído para a reprodução de um tecido produtivo atomizado e pouco eficiente. Ao mesmo tempo que favorece a canalização de recursos para o imobiliário, num contexto em que a nossa economia se encontra vulnerável à concentração de recursos financeiros neste sector e ao risco de formação de "bolhas especulativas".

A dependência dos mercados bancários é a regra em toda a Zona Euro, com implicações de grande complexidade. Quando predomina o crédito bancário e os bancos têm de absorver choques, tendem a reduzir o financiamento da inovação, com reflexos negativos sobre o investimento e a produtividade. A crise financeira que, a partir de 2007, se abateu sobre a generalidade dos bancos, fragmentou os mercados bancários europeus, com um forte impacto negativo sobre o financiamento de algumas economias - como no nosso caso.

É neste contexto que é hoje reconhecido o interesse - a necessidade - de reorganizar os mecanismos de intermediação financeira na Europa do euro. O objectivo é duplo: por um lado, financiar a inovação e o investimento empresarial, de modo a impulsionar a modernização do tecido produtivo e a produtividade; por outro, reduzir o risco sistémico representado por um peso excessivo dos mercados bancários.

Além, no entanto, do desenvolvimento de um mercado de capitais transversal ao euro - necessário à criação de uma União de Capitais - é do nosso interesse - responsabilidade - diversificar, em tempo útil, as fontes e os instrumentos de financiamento das empresas, como forma de ultrapassar os bloqueamentos actuais (a continuar outro dia).  

Economista

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