O Presidente da República convocou para hoje uma reunião do Conselho de Estado.
É nos momentos críticos, como aquele que atravessamos, que a qualidade do diagnóstico é mais determinante.
Estamos em vésperas de mais umas eleições europeias. Mas, pelo menos para nós, portugueses, cidadãos de um país da periferia da zona euro, estas não são "mais umas eleições europeias".
Infelizmente, empurrado pelos seus parceiros europeus e pela miopia eleitoral dos partidos do governo, a partir de agora Portugal ficará na situação do trapezista pouco preparado, que inicia a travessia, de um longo e fundo desfiladeiro. À mercê das circunstâncias. E sem rede.
A Europa pós-alargamento, pós-moeda única e pós-crise financeira não é hoje mais o referencial de modernidade, progresso e solidariedade que nos motivou e orientou no período pós-revolucionário e durante boa parte das décadas seguintes.
Os próximos confrontos eleitorais deverão ser esclarecedores acerca do lado para o qual pende a vontade dos portugueses. Porque há muito precisamos de uma frente política interna coesa, capaz de desenvolver, em Portugal e na Europa, a agenda de políticas com a ambição de inverter o declínio do país.
Os resultados desta estratégia são, infelizmente, bem conhecidos. Nenhuma das metas iniciais do memorando de entendimento foi cumprida, o défice continua elevado e não teve redução sustentável, a dívida disparou, a recessão foi muito mais profunda e o desemprego mantém-se em níveis socialmente insustentáveis.
E se conseguirmos uma "saída limpa", então estaremos perante um "1640 financeiro". Já para a oposição, um "cautelar" é um segundo programa, e só a "saída limpa" cumprirá os mínimos.
Teremos agora, é certo, com a remodelação do Governo, um tempo de alguma distensão. Mas o que não teremos seguramente é uma alteração de política com a profundidade e a abrangência necessárias à superação da dificílima situação em que nos encontramos.
É verdade também que Paulo Portas tem agora a oportunidade da sua vida. Tendo acumulado um poder sem precedentes para alguém que não é primeiro-ministro, resta-lhe demonstrar que de facto merece o crédito.
Mas há algo que é claro em tudo isto: a queda do investimento não é chuva ou aguaceiro. É uma verdadeira tempestade seguida de tsunami que tudo está a destruir.