Isabel Stilwell falecomisabelstilwell@gmail.com 14 de Fevereiro de 2019 às 17:53

Portuguesas infelizes com o trabalho 

Estudo conclui que “as mulheres com trabalho pago e filhos ficam ainda mais sobrecarregadas se tiverem um parceiro do que se viverem sozinhas”. É só uma das más notícias que tem para dar.

Descobrir "Quem são, o que pensam e como se sentem as mulheres em Portugal", foi o objetivo do estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, divulgado esta semana. Com uma amostra representativa do universo de 2,7 milhões de mulheres entre os 18 e os 64 anos, é uma autêntica gruta de Ali Babá, com informação preciosa que nunca mais acaba. Fui procurar perceber como se relacionam com o emprego. Visto daqui, não são boas notícias. 

 

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A grande maioria trabalha fora de casa

 

São 71% as mulheres analisadas neste estudo que estão ativas no mercado de trabalho. As restantes distribuem-se da seguinte forma: 10% estão desempregadas e encontram-se ativamente à procura de emprego; 10% já trabalharam, mas não estão à procura de emprego; 7% ainda estão a estudar; e apenas 2%, nunca tiveram trabalho pago.

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Não gostam do emprego

 

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"Menos de um terço (31%) das mulheres estão muito felizes ou felizes com o trabalho pago que têm, 51% estão infelizes e 18% estão quase felizes. Para 14% das mulheres, o emprego que têm ultrapassou as suas expectativas, para 37% está de acordo com as expectativas, e para 44% está abaixo ou muito abaixo das expectativas." Ou seja, "considerando ambos os indicadores, não se pode dizer que as mulheres se sintam particularmente realizadas com o trabalho pago, em Portugal."

 

Trabalhar para pagar as contas

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Diz o estudo: "Em geral, as mulheres demonstram pouco entusiasmo pelo trabalho pago, sendo este estritamente encarado como uma forma de auferir rendimentos. Das que estão ativas no mercado de trabalho, mais de um terço (36%) afirma que não trabalhariam caso não precisassem de dinheiro para viver."

 

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Se não se sente retratada nesta conclusão, faz com certeza parte dos 23% que gostam tanto do que fazem que trabalhariam mesmo que não precisassem do dinheiro. Estas, por regra, são as proprietárias de algum negócio ou empresa, chefes de departamento, diretoras ou membros de um conselho de administração, e ainda as trabalhadoras independentes qualificadas.

 

Escolaridade ajuda em tudo

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Quanto maior o nível de escolaridade, melhor salário, menos desemprego, e maior gosto pelo que se faz. Dão um exemplo: "30% das mulheres que completaram um mestrado ou um doutoramento trabalhariam mesmo que não precisassem do dinheiro, o que representa exatamente o dobro das mulheres que só têm o ensino básico."

 

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Um segundo emprego não remunerado

 

As mulheres somam um trabalho pago de sete horas e 18 minutos, com um trabalho não pago de seis horas e picos, porque continuam a ser elas a desempenhar 74% das tarefas domésticas e 73% das tarefas com os filhos, o triplo do tempo que o marido/pai das crianças gasta nas mesmas. Às mães de filhos com cinco anos ou menos, sobram apenas 54 minutos só para si. Espantosamente, o facto de ter um emprego a tempo inteiro e de entrar com o seu vencimento para o orçamento familiar, não altera em absolutamente nada a divisão desequilibrada destas tarefas. Mas o estudo vai mais longe, afirmando que "genericamente, as mulheres com trabalho pago e filhos/as ficam ainda mais sobrecarregadas se tiverem um parceiro do que se viverem sozinhas."

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Conciliar trabalho e família

 

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Não admira que perante este cenário para a esmagadora maioria das mulheres, a partir dos 28 anos, a questão mais premente passe a ser conciliar bem o trabalho pago com a vida pessoal ou familiar. Quando o conseguem, gostam mais do trabalho. No entanto, daquelas que deram prioridade à sua vida familiar em detrimento da vida laboral, a maioria afirma que de alguma forma pôs um "travão" ao progresso da sua carreira.

 

Conclusão

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Aparentemente uma em cada dez mulheres toma diariamente medicamentos para a ansiedade, distúrbios do sono, ou antidepressivos. A pergunta que se impõe é, apenas, quando é que as outras vão começam a tomar?

 

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Nota

 

Confesso que tive vontade de engolir uma caixa inteira de Xanax perante o uso constante ao longo do estudo do termo "pessoa parceira" - saber mais sobre "a pessoa parceira", viver com "a pessoa parceira", dividir tarefas com "a pessoa parceira". O que é isso pergunta o leitor, e bem. Suponho que seja o que o vulgo dos mortais chama de marido/companheiro e, claro, companheira.

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Jornalista

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