O drama do interior do país
Com a minha recente candidatura à Assembleia Municipal da Meda, apercebi-me, com maior detalhe, do drama que se vive no interior do nosso país.
A cidade da Meda perde, persistentemente, população, assim como a quase totalidade dos restantes Concelhos da Região do Douro, incluindo as que têm uma presença significativa na comunicação social, como Foz Côa.
Assisti ao abandono das aldeias, ao envelhecimento e empobrecimento continuado da população, com casas abandonadas à medida que os seus proprietários vão falecendo.
Vi ruínas romanas, com indiscutível valor histórico e arqueológico, ao abandono.
Verifiquei as dificuldades com que lutam, diariamente, os empresários dos vários sectores - agricultura, vinicultura, restauração, hotelaria, serviços,… - para sobreviverem, mantendo os poucos empregos que conseguiram criar.
A tragédia inaceitável que nos atingiu recentemente, e que ainda nos parece um sonho que terminou em pesadelo é o corolário de todo este cenário de abandono.
O Estado, gordo, pesado e caro, que todos nós alimentamos, e que se prepara para engordar ainda mais nas áreas urbanas onde os sindicatos têm a sua força, revelou-se incapaz de proteger o bem mais precioso dos seus cidadãos - a vida humana.
Revelou toda a sua incompetência para reagir a uma situação de catástrofe, que resultou de erros acumulados no desenvolvimento equilibrado e sustentável do seu território.
Não aprendeu, sequer, com os erros do primeiro episódio de fogos, permitindo uma segunda vaga de destruição, mais severa que a anterior, com um número de vítimas mortais da mesma ordem de grandeza, algumas das quais ocorreram com a completa destruição das suas habitações.
Ou seja, como todos nós professores sabemos, esta incompetência é sistémica e não conjuntural.
O encerramento de serviços públicos - tribunais, hospitais, correios, … - e a degradação da qualidade dos restantes, contribuindo decisivamente para a desertificação destes territórios, tinham que conduzir, obrigatoriamente a este desfecho.
Não se vislumbra uma estratégia de desenvolvimento inteligente e consistente, aproveitando as potencialidades das várias parcelas do território - o turismo histórico, a rede de castelos, as ruínas romanas, a presença judaica, as termas, a gastronomia, os vinhos, azeite, amêndoas, …
A solidariedade regional é uma palavra vã, com os jovens destas regiões, sem perspectivas de futuro, a emigrarem para as grandes cidades, criando uma cultura sub-urbana que acabará por destruir a riqueza da nossa identidade nacional.
O conceito de análise custo-benefício não é minimamente conhecido por quem nos governa, os actuais e os anteriores, confundindo obrigações públicas com actividade privada.
A atracção centrípeta de Lisboa é de uma enorme perversidade, acabando por conduzir, também, à degradação da qualidade de vida desta cidade, se não for contrariada com políticas adequadas de descriminação positiva do interior do país.
Mas, infelizmente, não estou nada optimista em relação a este processo de inversão da situação actual.
Gestor de Empresas
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