Luís Marques Mendes 01 de Setembro de 2019 às 21:05

Marques Mendes: "A vida do PS nos próximos anos pode ser um grande inferno"

As notas da semana de Marques Mendes no seu habitual comentário na SIC. O comentador político fala sobre as rentrées, os prós e contras da maioria absoluta do PS, os debates eleitorais, entre outros assuntos.

AS RENTRÉES

 

PUB

  1. Rentrées sem grandes novidades.
  2. PS – O PS esteve de acordo com o expectável. Quer ganhar na Madeira e quer maioria absoluta no país. As duas maiores surpresas vieram de fora: a primeira foi um artigo de Sócrates no Expresso a atacar Costa. Parece um artigo feito de encomenda. É dinheiro em caixa para o PM. Só lhe dá votos e credibilidade. Sócrates é um activo tóxico. E não tem razão nas críticas que faz. A segunda foi a sondagem JN/TSF: quase 44% dos inquiridos preferem o PS. É a maioria absoluta à vista.
  3. PSD – O PSD teve uma rentrée agri-doce. Por um lado boas iniciativas; por outro, uma sondagem demolidora (20%). A minha intuição diz-me que o PSD ficará acima destes valores. Nunca abaixo dos 25%. Para isso, Rui Rio tem de fazer 3 coisas: ter uma campanha mobilizadora; ser assertivo nos debates; ter uma mensagem clara e estável. Não pode andar a mudar de mensagem todos os dias, sob pena de não haver mensagem nenhuma. A meu ver deve concentrar-se: no seu único adversário, o PM; numa ideia central, a ideia de mudança; numa prioridade essencial, a redução de impostos para a classe média e as PMEs.
  4. CDS – Assunção Cristas esteve bem esta semana. No discurso da Madeira, no programa que apresentou e em entrevista à TVI. Mas o CDS está num beco igual ou pior que o do PSD. Está mal nas sondagens, perdeu perante as expectativas de há um ano, não conquista votos no espaço do PSD e vive uma luta interna perigosa, com duas tendências: uma tendência moderada, liderada por Cristas; e uma tendência radical, encabeçada pelo líder da JP. Mesmo assim, acho que o CDS ficará acima das sondagens.
  5. BE – Catarina Martins cumpriu o seu guião: o BE quer ir para o Governo ou influenciar fortemente um novo governo do PS. A vontade é tão grande que até já fala de contas certas. Para isso, precisa de evitar a maioria absoluta do PS. A sua campanha é a campanha anti-maioria. Se a evitar, Catarina Martins é uma grande ganhadora. Se não evitar, tem muito a perder. Volta a ser um partido de protesto.
  6. PCP – Não fez ainda a sua rentrée. Mas Jerónimo deu uma boa entrevista ao Expresso. Sobretudo muito genuína. Ficam duas sensações: primeira, que esta é a última campanha de Jerónimo de Sousa; segunda, que a seguir a Jerónimo vai acelerar-se o processo de esvaziamento do PCP.

 

  1. Se as rentrées não tiveram grandes novidades, a surpresa desta campanha é outra: a bipolarização PS/BE. Tradicionalmente, nas legislativas, o combate mais decisivo é entre o PS e o PSD, entre esquerda e direita. O combate normal e desejável. Desta vez é diferente. O combate importante vai ser entre o PS e o BE. Primeiro, porque a questão central destas eleições é saber se o PS tem ou não tem maioria absoluta. Segundo, porque o maior obstáculo à maioria absoluta é o BE. Não é nem o PSD, nem o CDS, nem o PCP. Isto é uma anormalidade democrática mas é, infelizmente, a verdade dos factos.

PUB

 

 

PRÓS E CONTRAS DE MAIORIA ABSOLUTA DO PS

PUB

 

  1. Uma eventual maioria absoluta do PS vai ser a questão central destas eleições. Uns concordam, outros discordam. Para o país, já se sabe, tem sobretudo uma grande vantagema ideia de estabilidade política; e fundamentalmente uma enorme desvantagema ideia de excessiva concentração de poder.

 

PUB

  1. A questão agora a abordar – do ponto de vista meramente analítico – é a de saber quais os prós e os contras de uma eventual maioria absoluta do PS, quer para o próprio partido socialista, quer para os outros partidos. Vejamos:

 

MAIORIA ABSOLUTA DO PS

PUB

VANTAGENS PARA O PS

  • Ganha estabilidade política e evita crises políticas
  • Garante mandato de 4 anos

 

PUB

DESVANTAGENS PARA O PS

  • Passa a ter oposição à esquerda e à direita
  • Passa a ter maior responsabilização (deixa de ter desculpas ou alibis)

 

PUB

MAIORIA ABSOLUTA DO PS

VANTAGENS PARA PCP E BE

  • Deixam de ter responsabilidades em tempo de abrandamento económico
  • Não têm de aprovar orçamentos restritivos em caso de desaceleração da economia

PUB

 

 

DESVANTAGENS PARA PCP E BE

PUB

  • Deixam de ser poder e passam a ser oposição
  • Voltam ao estatuto de partidos de protesto, sem influência na governação

 

MAIORIA ABSOLUTA DO PS

PUB

VANTAGENS PARA PSD E CDS

  • Ganham tempo para prepararem o regresso ao poder
  • Não são obrigados a aprovar leis e orçamentos de Governo minoritário

 

PUB

DESVANTAGENS PARA PSD E CDS

  • Ficam afastados do poder mais 4 anos
  • Não têm a perspectiva de eleições antecipadas.

 

PUB

COMO SERÃO OS PRÓXIMOS 4 ANOS?

 

  1. Face às sondagens, o mais provável é o PS ganhar as próximas eleições. Mas os próximos 4 anos não vão ser um passeio para o PS. Bem pelo contrário.
  1. Primeiro, vamos ter menos economia. Logo, haverá menos dinheiro para distribuir. Em consequência, mais dificuldades para o PS.
  2. Depois, o PS não vai ter estado de graça. A contestação social vai ser grande desde o início da governação. Mais uma dor de cabeça.
  3. No plano político, o PS vai confrontar-se com 4 problemas sérios:
  • Primeiro – A Presidência da UE em 2021 – Vai dar-lhe prestígio internacional mas muito desgaste interno. As presidências da UE fazem sempre com que os governos descolem da realidade e deixem agravar os problemas internos. Foi assim com Cavaco, Guterres e Sócrates.
  • Segundo – A sucessão na liderança do PS – Costa vai disputar agora as suas últimas eleições legislativas. O que significa que vai começar a luta pela sucessão do lÍder. Com duas consequências: mais divergências dentro do PS; menos autoridade da parte do PM. A sucessão de Costa será como a de Cavaco. Altamente desgastante.
  • Terceiro – Eleições autárquicas – O PS teve da última vez uma grande vitória. A probabilidade é de em 2021 baixar de votação. E isso gera desgaste.
  • Quarto – Um PR mais exigente. Todos os Presidentes são mais exigentes com os governos nos seus segundos mandatos. Marcelo dificilmente será excepção.

PUB

 

  1. Ao contrário do que se diz, não me parece que o PS se vá eternizar no poder. A sua vida nos próximos anos pode até ser um inferno. Se tiver capacidade de regeneração, a oposição pode regressar ao governo daqui a 4 anos.

 

PUB

DEBATES ELEITORAIS

 

  1. Começam amanhã os debates eleitorais. Duas notas prévias:
  2. Jerónimo de Sousa fez bem em bater o pé e dizer que só participa nos debates feitos em canal aberto. É uma posição digna e corajosa.
  3. Santana Lopes tem razão quando diz que a vida dos partidos novos é dura por dificuldade de acesso à comunicação social. E é pena. Há partidos pequenos e novos que estão a surpreender pela positiva: o Livre à esquerda; a Iniciativa Liberal à direita. Ambos com boas cartadas, nas ideias e nos protagonistas. E, atenção, a Iniciativa Liberal já aparece nas sondagens. Pode ser o PAN de há 4 anos, ou seja, a surpresa destas eleições.

PUB

 

  1. Quanto aos debates, há três destaques:
  2. O mais mediáticoEntre António Costa e Rui Rio. É o que suscita mais expectativas, atenção e mediatismo.
  3. O mais decisivo politicamente – Desta vez, o politicamente mais decisivo será entre António Costa e Catarina Martins. De um lado, a ambição da maioria absoluta; do outro lado, a grande opositora da maioria absoluta, que quer impedi-la porque quer ir para o Governo.
  4. O mais melindroso – Entre Rio e Cristas. É uma espécie de debate entre irmãos, sendo que ambos estão em coma induzido depois das eleições europeias.

 

PUB

  1. Tenho para mim que, salvo casos excepcionais, os debates não mudam o voto de ninguém. Dificilmente alguém muda o voto por causa dos debates. Mas podem ter duas influências: nos indecisos e na dinâmica das campanhas. Nesse plano, são importantes para todos os partidos.

 

O MAU EXEMPLO DO REINO UNIDO

PUB

 

  1. Más notícias no Reino UnidoBoris Johnson suspendeu o funcionamento do Parlamento durante várias semanas. Um golpe anti-democrático. Em democracia nem todos os meios são legítimos para atingir os fins que se pretendem. Por que é que faz isto?
  • Primeiro, para evitar que o Parlamento aprove uma lei contra uma saída desordenada.
  • Segundo, porque acha que ganha nos eleitores. Os britânicos estão fartos de indefinições parlamentares. E haverá eleições a curto prazo.
  • Finalmente, porque acha que ganha na UE, ameaçando com a "bomba atómica" (saída sem acordo) e "obrigando" a Europa a renegociar.
  • Isto é o populismo sem escrúpulos. Da democracia mais parlamentar do mundo – em que sempre se disse que a soberania está no Parlamento – vem o pior dos exemplos. Um verdadeiro escândalo. O mau exemplo dos que invocam o nome do povo contra o Parlamento e contra a elite política.

 

PUB

  1. Notícias assim, assim de ItáliaPara já o populismo perdeu. Salvini, o líder da extrema-direita, abriu uma crise política, queria eleições e tentar tornar-se PM. O tiro saiu-lhe pela culatra. Uma nova coligação de governo formou-se e evitou as eleições.
  • Mas, atenção: Salvini à solta na oposição é um perigo. Vai cavalgar onda populista. E, se o Governo tiver de tomar medidas difíceis, Salvini pode voltar ainda mais forte.
  • Se o Governo for de curta duração, será vitória para Salvini. Se durar até ao fim (2023), a sua vida fica mais difícil.

Saber mais sobre...
Saber mais Marques Mendes PS eleições rentrées
Pub
Pub
Pub