Diplomas e medalhas
Escrevo este artigo quando faltam ainda umas horas para encerrar o chamado mercado de transferências do futebol profissional. Dá que pensar a dimensão que os números das transferências atingem, sobretudo as diferenças existentes entre os clubes em Portugal.
Há três clubes que lidam com transferências na ordem das dezenas de milhões de euros. Depois, há um, que é o Braga, que tem uma transferência de mais de uma dezena de milhões de euros e outras bem abaixo. Para além disso, há assim uns casos esporádicos de uma transferência aqui e ali. Na prática, há clubes que têm movimentos de compras e vendas de jogadores entre 50 a 100 milhões e há outros, a maior parte, que não chegam a um milhão. É na verdade muito difícil haver condições de igualdade, mesmo sendo verdade, que nem todos os anos as grandes equipas atingem os mesmos valores. O Sporting há uns bons anos que não tinha uma lista de vendas significativa.
Faz este ano 50 anos, que Portugal foi pela primeira vez a um Mundial de Futebol, onde ficou em terceiro lugar, com os Magriços. Alguns representantes dessa grande Seleção, realizam este ano uma digressão por vários pontos do país, com o apoio da Santa Casa, para relembrar junto dos portugueses esse feito. Cerca de dez anos depois acaba o filão das ex-colónias, de onde vinham os Eusébios, os Colunas, e tantos outros. Foi agora, umas décadas depois que conseguimos o primeiro título internacional. Razões? Houve uma política de fomento muito bem estruturada? Uma política de formação bem conseguida? Mais ou menos, teve ciclos. Mas a verdade é que fomos persistentes e juntámos a verdadeira devoção que existe no país ao desporto-rei, o espírito positivo, a vontade de ganhar, investimento financeiro e algum talento nato.
Destes Jogos Olímpicos, falou-se muito de diplomas. Já que quase não houve medalhas, contaram-se os diplomas. Devo dizer que considero muito bom e considero algo exagerada a ideia de que temos de conseguir ficar entre os três melhores d o mundo. Apetece-me perguntar "por que carga de água"? Será que o país investe tanto assim nas várias modalidades para conseguir sustentar tamanha ambição? O atletismo é o exemplo de outra modalidade em que o esforço e a organização com objetivos, como ensinou e protagonizou o professor Moniz Pereira, atingiram resultados. Faz-me muita impressão ver Portugal ausente de modalidades onde tínhamos condições para estar. Por que razão não temos saltadores? E competidores na natação sincronizada? Temos tantas piscinais pelo país fora. E na ginástica, porque não estamos em mais disciplinas?
Nestas alturas de crise, os países têm que se agarrar a projetos mobilizadores. A formação no desporto e na cultura devia ser ponto-chave de qualquer reforma educativa. Houve progressos? Sim, houve. Há 30 anos era muito diferente. Mas não chega de todo. Oiçam os dirigentes das federações e eles explicam como há tanta falta de prática desportiva no país. Como é evidente, trata-se também de uma questão de saúde e dos portugueses chegarem às idades avançadas em melhores condições físicas.
Mais do que ligar-se a projetos rotineiros ou pouco ambiciosos, a Santa Casa está disposta a apoiar projetos mobilizadores que contribuam para dar mais alma ao país. Já apoia muitos, em várias modalidades, daquelas que são as tarefas correntes de preparação e formação dos atletas. Mas, falo de projetos mobilizadores. Só que a Santa Casa, obviamente não tem nas suas competências fazer aquilo que cabe às autoridades do país. Repito: o país precisa de projetos mobilizadores.
Advogado
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