Competências para um mundo em transformação
Ao encerrarmos mais um ano letivo e nos aproximarmos das merecidas férias, é inevitável refletir sobre o que nos reserva o futuro. No epicentro dessa reflexão estão os nossos estudantes — os líderes, empreendedores, cientistas e cidadãos do amanhã — e a responsabilidade das instituições de ensino superior de os preparar não apenas para o mercado de trabalho de hoje, mas para um futuro em rápida e profunda transformação.
Os relatórios mais recentes do World Economic Forum (WEF), da McKinsey & Company e do European Innovation Council (EIC) apontam para um ponto de convergência claro. O futuro do trabalho será moldado por uma tríade indissociável: inovação, tecnologia e competências humanas.
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De acordo com o “Future of Jobs Report 2025” do WEF, cerca de 86% dos empregadores acreditam que as tecnologias associadas à inteligência artificial (IA) e ao processamento de informação transformarão os seus negócios até 2030. A McKinsey, no “Technology Trends Outlook 2025” vai ainda mais longe ao destacar que a IA não é apenas uma revolução isolada, mas um “acelerador universal” que amplifica o impacto de outras tecnologias emergentes como a robótica, a bioengenharia e as energias renováveis.
Estes avanços colocam as organizações perante oportunidades imensas. Contudo, exigem adaptações estruturais, reconfiguração de modelos de negócio e, sobretudo, talentos preparados para liderar e colaborar com estas novas ferramentas. Não se trata apenas de aprender a usar tecnologias, mas de pensar com elas, através delas e, muitas vezes, contra elas.
Embora as máquinas estejam a ganhar capacidades cognitivas, os empregadores continuam a valorizar significativamente competências humanas como pensamento analítico, criatividade, resiliência, flexibilidade e liderança social. De acordo com o relatório do WEF, cerca de 39% das competências atualmente exigidas estarão obsoletas até 2030. Ainda assim, essa “instabilidade de competências” representa uma oportunidade de requalificação e reinvenção. A McKinsey chama a atenção para o surgimento de modelos colaborativos entre humanos e máquinas, de interfaces mais naturais a sistemas autónomos que funcionam como “colegas virtuais”. Neste novo paradigma, os profissionais não são substituídos pela tecnologia, mas ampliados por ela.
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Assim, é imperativo que os estudantes desenvolvam um conjunto de competências híbridas, onde o domínio técnico (como literacia digital, programação ou cibersegurança) coexista com capacidades socioemocionais e éticas. A curiosidade e a aprendizagem ao longo da vida deixam de ser opções para se tornarem pilares da empregabilidade sustentável.
Já o relatório “Unlocking Innovation through Corporate-Startup Collaboration” do EIC sublinha a importância da criação de ecossistemas robustos onde universidades, start-ups e grandes empresas colaborem para escalar tecnologias disruptivas. Os exemplos de sucesso, como o da “start-up” Nanolike com a gigante Holcim, ilustram como estas sinergias aceleram a implementação de soluções inovadoras e abrem portas a novas oportunidades de mercado.
Neste contexto, os estudantes devem ser expostos desde cedo à lógica da experimentação, do erro construtivo e da colaboração transdisciplinar. Programas de empreendedorismo, “hackathons”, residências em empresas ou projetos com impacto social são exemplos de formas eficazes de desenvolver uma mentalidade inovadora e prática.
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Face a este cenário, o papel das instituições de ensino superior não é apenas formar profissionais competentes, mas cidadãos conscientes e agentes de mudança. Devemos (I) continuar a reformular currículos com base nas competências emergentes, incorporando metodologias ativas e aprendizagem baseada em problemas e no serviço à comunidade; (II) estimular a interdisciplinaridade, derrubando silos entre áreas técnicas, sociais e humanísticas; (III) aproximar os estudantes do tecido empresarial e social, através de parcerias com start-ups, empresas e organizações públicas; e (IV) investir na formação contínua de docentes, para poderem ser mediadores relevantes neste novo ecossistema.
O futuro do trabalho não é um destino fixo, mas um espaço de construção coletiva. Os desafios são complexos: desde a adaptação climática à ética na utilização da IA, passando por tensões geopolíticas e mudanças demográficas. Também é um tempo de possibilidades, em que as novas gerações têm a oportunidade de desenhar soluções sustentáveis, inclusivas e inteligentes. Enquanto centros de conhecimento, as universidades têm a responsabilidade de abrir horizontes, de cultivar a ambição com sentido ético, e de preparar os nossos estudantes não apenas para encontrar emprego, mas para criar impacto.
Boas férias!
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