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João Pinto - Dean da Católica Porto Business School
24 de Novembro de 2025 às 20:42

Liderar com ética: o desafio do nosso tempo

Ao celebrarmos esta década de trabalho, renovamos uma convicção simples, mas exigente: liderar com ética é o desafio mais decisivo do nosso tempo. E é também aquele que mais impacto poderá ter na construção de organizações humanas, responsáveis e preparadas para o futuro.

Num tempo marcado por incerteza, velocidade tecnológica e escrutínio público crescente, tornou-se evidente que a sustentabilidade das organizações depende não só do que produzem, mas da forma como o fazem. Já não é possível dissociar desempenho económico de conduta ética. As empresas são avaliadas, não só pelos resultados, mas também pelos princípios.

Esta mudança não é retórica, é estrutural. O contexto atual exige líderes capazes de integrar valores no processo de decisão, de agir com coerência e de construir culturas onde a integridade seja prática diária, e não apenas declaração formal. Obriga também a repensar a relação entre ética e "compliance", muitas vezes tomadas como sinónimos, mas que desempenham papéis distintos e complementares.

A conformidade assegura o cumprimento de normas legais e regulamentares; a ética orienta escolhas em situações ambíguas, onde a regulação não chega ou chega tarde. Um sistema baseado apenas na conformidade tende a tornar-se mecânico, insuficiente para lidar com dilemas reais. Por outro lado, uma cultura que se apoia apenas em princípios, sem mecanismos de controlo ou monitorização, arrisca-se a ser inoperante.

Encontrar o equilíbrio certo é essencial. Como tenho defendido noutras reflexões, a ética não é um travão ao desenvolvimento — é o seu alicerce. Num mundo em que a sustentabilidade exige equilibrar desempenho económico, impacto ambiental e responsabilidade social, a ética transforma-se numa ferramenta estratégica para gerir riscos, criar confiança e projetar futuro.

E a liderança ética deve ser uma prática quotidiana. A liderança ética não nasce de um momento de inspiração; constrói-se na consistência do dia a dia. É feita de decisões que se alinham com valores, mesmo quando o contexto pressiona no sentido contrário. É feita de clareza nas expectativas, de coragem para definir limites e de capacidade para ouvir, interpretar e agir com responsabilidade.

Importa também reconhecer que a liderança ética é um exercício partilhado. Não depende apenas de figuras individuais, mas da relação entre líderes e equipas, de mecanismos de apoio, de espaços de diálogo e de culturas que legitimam quem levanta preocupações. A ética existe na relação e fortalece-se na relação.

As organizações que integram a ética como dimensão central do seu modelo de gestão tornam-se mais resilientes. Beneficiam de maior confiança interna, conseguem atrair talento, reforçam a credibilidade perante clientes e parceiros e tornam-se mais atrativas para investidores que valorizam práticas responsáveis e sustentabilidade.

Mais do que isso, beneficiam de uma maior capacidade de resposta em momentos de crise. Uma cultura ética bem enraizada funciona como um sistema de orientação, permitindo decisões difíceis com base em princípios, e não apenas em pressões circunstanciais. A ética cria coesão, reduz riscos e potencia inovação, porque promove abertura, diversidade de opiniões e liberdade para questionar.

As empresas que compreendem o seu propósito e o traduzem em ações coerentes são aquelas que se projetam com legitimidade no futuro. Não basta crescer; é preciso saber em que direção se cresce e com que consequências.

As escolas de negócios têm a responsabilidade de formar líderes capazes de exercer esta visão. Na Católica Porto Business School, esta responsabilidade faz parte da nossa identidade. Procuramos integrar ética, sustentabilidade e liderança responsável no ensino, na investigação e na relação com as organizações.

A formação de gestores não se esgota na técnica. Exige o desenvolvimento de consciência crítica, capacidade de decisão e sentido de responsabilidade. Profissionais completos combinam rigor com consciência; competência com propósito; conhecimento com valores.

É neste enquadramento que celebramos dez anos do Fórum de Ética, num momento marcado pela conferência dedicada à Liderança Ética Individual e Organizacional. Ao longo desta década, o Fórum tornou-se um espaço de reflexão, diálogo e criação de conhecimento, reunindo gestores, académicos, estudantes e organizações de setores diversos.

Os resultados do Inquérito de Liderança Ética, apresentados nesta conferência, mostram que existe maior sensibilidade para os temas éticos, mas que a sua integração consistente, na prática, continua a ser um desafio. Mostram também que a liderança ética é um percurso a construir em conjunto — líderes e equipas, organizações e sociedade.

O lançamento do novo livro “Ética e Compliance: Vozes (e Histórias) de Gestores” reforça esta ideia: a ética não se impõe, propõe-se; discute-se, aprende-se e pratica-se. É uma construção individual e coletiva que exige tempo, intenção e correção de rumo.

Ao celebrarmos esta década de trabalho, renovamos uma convicção simples, mas exigente: liderar com ética é o desafio mais decisivo do nosso tempo. E é também aquele que mais impacto poderá ter na construção de organizações humanas, responsáveis e preparadas para o futuro.

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