Biquínis, bronzeados e futebol
Contrariamente à crença popular, a maioria das economias latino-americanas não são dependentes das exportações. Com um forte crescimento interno, a América Latina está melhor isolada que a maioria das economias contra a lentidão do crescimento global.
Hiperinflação, mercadorias e exportações. Pode pensar que compreende muito bem a América Latina, mas os balanços, as economias nacionais e as demografias contam uma história bem diferente.
Não é segredo nenhum que o crescimento global vai ser em grande parte impulsionado pelos mercados emergentes num futuro previsível. Porém, nem todos os mercados emergentes são iguais. Parece evidente que a força da procura interna - e o universo de acções de investimento que a explora - define a América Latina à parte, tornando-a uma oportunidade atraente tanto para os investidores globais como os locais.
Especialmente em períodos de volatilidade do mercado, como aqueles que se verificaram no ano passado, as tendências risk-on/risk-off parecem dominar, desviando a atenção dos investidores dos princípios básicos. Nas intensas oscilações do mercado e em períodos de extrema e generalizada aversão ao risco, as acções latino-americanas são muitas vezes tratadas como um mercado de beta elevado e os investidores podem desistir, em benefício da alocação nos tradicionais portos seguros. No entanto, olhando para as economias e empresas da região, há muitas coisas que estão erradas com este pressuposto.
Contrariamente à crença popular, a maioria das economias latino-americanas não são dependentes das exportações, quanto mais das mercadorias. De facto, as exportações são uma parte relativamente pequena do PIB na América Latina, em comparação com outros mercados emergentes. Por exemplo, no Brasil, a totalidade das exportações é inferior a 10% do PIB, e enquanto a China, sendo o maior parceiro comercial do país, essa actividade representa apenas 2% do PIB. Consequentemente, a América Latina, com um forte crescimento interno, está melhor isolada que a maioria das economias - incluindo muitos mercados emergentes - contra a lentidão do crescimento global. A América Latina acolhe histórias robustas de crescimento interno. Como as tensões em torno da Europa continuam a abrandar e os mercados acalmam, os princípios básicos vão reafirmar-se e as acções latino-americanas têm a possibilidade de um melhor desempenho.
No essencialNa América Latina, as fontes de crescimento dos próximos anos deverão continuar a resultar de uma classe média em expansão e da procura reprimida do crédito e da habitação. Estes temas permanecem intactos e não são realmente afectados pelo fluxo global de fundos.
Adicionalmente, a região é rica em recursos naturais, como o petróleo, o gás e as reservas minerais, e tem espaço para o crescimento do sector agroindustrial. As especulações sobre riscos políticos e políticas irresponsáveis resultam das percepções de alguns investidores, designadamente os especuladores imobiliários, sobre a região. No entanto, a estabilidade política e o respeito pelo processo democrático já reduziu o impacto do risco eleitoral nos mercados. Enquanto isso, políticas fiscais e monetárias responsáveis em muitos países, recentemente exemplificadas pelo sucesso no controlo da inflação, criaram um ambiente atraente para o investimento, que esperamos que continue.
É onde está o coraçãoOs países latino-americanos (sendo o Chile uma excepção relativa) têm uma penetração muito baixa dos produtos financeiros, tanto empréstimos, como hipotecas, e o investimento em acções é bastante reduzido. No entanto, observa-se que estão todos a crescer. Com o aumento das hipotecas, haverá um efeito multiplicador positivo em vários sectores da economia, sejam os bancos, as construtoras ou os revendedores. O sector de serviços financeiros será um dos prováveis vencedores. Os empréstimos, em relação ao PIB, permanecem em níveis relativamente baixos e deverão ser uma fonte de crescimento durante muitos anos. Espera-se um crescimento dos activos sob a forma de acções na ordem dos 800 mil milhões de dólares nos próximos quatro anos. Esta é uma quantidade muito significativa de dinheiro e irá fornecer mais liquidez, bem como algum espaço para valorizações.
Uma pequena fortunaO universo de acções de pequena e média capitalização proporciona algumas das melhores exposições a essas convincentes histórias de crescimento interno. É do conhecimento geral que o MSCI Latin America Index é ponderado para a arena da elevada capitalização. A maioria destes são mercadorias mais cíclicas, incluindo empresas de celulose e papel, empresas de energia e fabricantes de aço.
No entanto, quando se retiram as empresas de elevada e mega capitalização, fica-se com um universo de investimento muito centrado na economia doméstica. Este é um luxo garantido aos investidores na América Latina, mas é muito menos evidente noutras economias emergentes. A maioria das grandes empresas já são públicas. Porém, para o investidor selectivo, há grandes oportunidades para agarrar. Aqui podemos adquirir uma posição maior como uma percentagem dos activos, proporcionando outra importante e útil fonte de geração de alfa. Além disso, a tendência dos investidores locais quando começam a entrar no mercado é para, precisamente, empresas mais pequenas, apoiando e expandindo o mercado.
*Gestor do BGF Latin American Fund
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