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Rui Cerdeira Branco
07 de Maio de 2008 às 15:04

O seu banco sabe avaliar o risco?

Soros cavalga a onda da recente crise financeira internacional apresentando-a como a prova definitiva de algumas das suas ideias mais polémicas. Antecipou para o fundamentalismo de mercado o mesmo destino do fundamentalismo marxista e considera inevitável

Regulators need to regain the control they happily ceded in the 1980s, particularly over excessive borrowing. The idea that risk management can be left to the moneymen is an "aberration". After three decades of stellar growth, the financial-services industry needs to shrink and become less profitable.

George Soros, ao The Economist (7/ABR/2008)

Soros cavalga a onda da recente crise financeira internacional apresentando-a como a prova definitiva de algumas das suas ideias mais polémicas. Antecipou para o fundamentalismo de mercado o mesmo destino do fundamentalismo marxista e considera inevitável para evitar uma sucessão de convulsões constituídas por bolhas e subsequentes estouros, em parte autofomentadas pelo sistema financeiro, um reforço da regulação económica.

No artigo que cito, Soros defende que os homens do dinheiro provaram sucessivas vezes que são péssimos na gestão do risco. De certa forma, Soros desculpa-os por ser uma autêntica aberração do sistema atribuir-lhes a exclusividade (ou quase) dessa responsabilidade. Afinal poucos terão tido a coragem de fugir à febre do ouro que era oferecida pelo incremento da actividade bancária e da consequente acumulação de lucros pelos seus bancos. Está na sua natureza.

Na realidade, parece-me evidente que muitos banqueiros (e falamos essencialmente dos norte-americanos) terão percebido que, naquela conjuntura específica, o crédito barato que ajudavam a promover estava a inflacionar a procura (nomeadamente de imobiliário), inflacionando com isso o valor das garantias bancárias e dando uma ilusória sensação de baixo risco. Mas qual o problema se tudo isto vem nos manuais? O problema estava no facto de os devedores serem famílias particularmente vulneráveis a flutuações do ciclo económico, onde um pequeno esticar da corda levá-los-ia a entrar em incumprimento, desencadeando o ciclo inverso que levou à crise actual.

No entanto, muitos banqueiros - o número suficiente para que se quebrasse a confiança entre os próprios bancos - não hesitaram em fomentar a bolha, desprezar a história (do cliente que tinham à frente a pedir dinheiro) e chutar futuros problemas para o futuro, talvez acreditando no poder auto-regulador do mercado ou talvez acreditando que outro pagaria a factura.

O futuro chegou e algumas perguntas impensáveis há pouco começam a surgir, como seja a de saber, até que ponto, devem as instituições financeiras ser responsabilizadas pelo risco subjacente às aplicações financeiras que patrocinam? Ou por outras, se haverá um limite para o erro de análise que não possa ser aceite como risco inerente ao negócio e deva ser considerado como actividade dolosa dos bancos para com os clientes?

Mais do que dar resposta a estas perguntas, parece-me extremamente saudável amplificá-las e recomendar ao leitor uma reflexão, um exercício útil para que não se perca o fito do que deverá ser um reforço da actividade de regulação global dos mercados financeiros e também para que não se caia num exagero típico dos momentos de aperto.

A lição é velha: o passado conta e o estudo e conhecimento aprofundado da tendência, do ciclo e do instante, devem ser sempre um todo coeso e inseparável a tomar em conta no momento de decisão; os fundamentais da economia não são só as fotografias do momento. O sarilho final é que os poucos que folgam as costas entre as crises mal se ouvem, perante os que apanham bordoada em momentos de aperto. É tempo de reforçar a defesa das boas práticas, recorrendo aos reguladores, a bem do mercado.

Nota Final: este é o meu primeiro artigo de opinião no Jornal de Negócios que agora inicia uma renovação de boa parte da sua carteira de colaboradores nesta área. Acedi de pronto ao convite que me foi dirigido, facto facilitado pela percepção que tenho de que é entre a imprensa especializada em economia e finanças que se faz o melhor jornalismo diário que o País tem. Espero estar à altura. Nos próximos meses vamo-nos lendo também por aqui.

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