pixel

Negócios: Cotações, Mercados, Economia, Empresas

Notícias em Destaque

Política grega - um passo para a esquerda

O Syriza conseguiu uma vitória expressiva nas eleições gregas, obtendo mais de 36% dos votos. A Nova Democracia (ND), que detinha o poder, ficou-se pelos 28%.

O Syriza conseguiu uma vitória expressiva nas eleições gregas, obtendo mais de 36% dos votos. A Nova Democracia (ND), que detinha o poder, ficou-se pelos 28%. No entanto, ao eleger apenas 149 deputados, Alexis Tsipras, líder do Syriza, ficou a dois deputados da maioria absoluta. As negociações para formar uma coligação estão adiantadas, pois o pequeno partido de direita Gregos Independentes, que elegeu apenas 13 deputados, já anunciou o seu apoio a Tsipras. Uma coligação entre o Syriza e os Gregos Independentes proporcionaria uma maioria confortável.

A reacção imediata dos mercados tem sido relativamente moderada. O euro começou por cair para 1,10 em relação ao dólar norte-americano, o valor mínimo dos últimos 11 anos, mas recuperou para 1,12 no início da sessão. A rentabilidade das obrigações de dívida pública grega a 10 anos subiu 43 pontos base, mas os custos do crédito para outras economias periféricas caíram. Entretanto, a bolsa de Atenas acabou por recuperar, depois de ter aberto com uma queda de 6%.

A exposição da Europa à turbulência política da Grécia é menor do que em 2012, quando foram realizadas as últimas eleições. Além disso, o anúncio, por parte do Banco Central Europeu (BCE), do programa de Flexibilização Quantitativa (QE) proporcionou uma almofada confortável e é provável que venha a determinar a confiança do mercado a curto prazo.

O lugar da Grécia na União Europeia continua incerto, pelo que o facto de ter sido rapidamente constituído um novo governo de coligação e de terem sido imediatamente encetadas negociações com a Troika poderá ser positivo para a Grécia, tal como para a Europa e para os mercados.

Implicações da vitória do Syriza

Nas eleições gerais da Grécia, o Syriza obteve uma vitória significativa, angariando 36,3% dos votos, seguido da ND, que obteve 27,8%. O Syriza não conseguiu obter a maioria absoluta, ao eleger 149 deputados (contra 76 eleitos pela ND), mas chegou rapidamente a um "acordo de princípio" para constituir um governo de coligação com o partido Gregos Independentes. Os dois partidos coligados perfazem um total de 162 deputados, num parlamento constituído por 300 assentos.

Tsipras assentou a sua campanha eleitoral na redefinição das medidas de austeridade impostas à Grécia pela Troika e na renegociação dos termos do programa de resgate do país. O Syriza anunciou quatro iniciativas fundamentais:

1. Acabar com o excedente orçamental primário;

2. Revogar todas as reformas do mercado de trabalho;

3. Aprovar programas de assistência para a população mais carenciada e para os pensionistas com baixos rendimentos;

4. Abolir os impostos sobre imóveis e estabelecer um limiar de isenção tributária equivalente a 12.000€ de rendimento bruto.

Estas políticas orçamentais expansionistas colidem com o acordo estabelecido com a Troika, pondo em risco o relacionamento da Grécia com a Europa e com o apoio financeiro vital de que o país ainda precisa, mas a saída da Grécia da Zona Euro - a chamada Grexit - parece improvável. Os mercados poderão enfrentar um longo período de incerteza, dado que o Syriza tenta impor um novo memorando de resgate, embora mais suave. Este ano, o governo terá de pagar 8,5 mil milhões de euros referentes aos empréstimos contraídos com o Fundo Monetário Internacional, além de 6,7 mil milhões de euros de dívida que o BCE comprou aos mercados.

Entretanto, os bancos gregos precisam de manter o acesso ao financiamento do BCE, sem o qual poderiam fixar expostos a riscos consideráveis. O programa de Flexibilização Quantitativa recentemente anunciado pelo BCE, que inclui dívida soberana grega, institui que as obrigações sem grau de investimento só poderão ser compradas caso os respectivos países se mantenham nos programas de assistência financeira.

Outro motivo de preocupação tem a ver com o facto de a banca grega depender do programa de Concessão de Liquidez em Situações de Emergência (ELA) do BCE, na sequência do forte aumento das fugas de depósitos do sistema bancário nacional.

O risco de contágio é limitado

A recente turbulência política na Grécia teve um impacto maior nos mercados internos do que na confiança dos investidores relativamente aos mercados europeus, o que poderá ficar a dever-se, em parte, à redução da exposição do sistema financeiro europeu à banca grega.

O Equity Index de Atenas diminuiu 28% desde 30 de Setembro de 2014 e atingiu o ponto mais baixo no início de Janeiro. Entretanto, a rentabilidade das obrigações soberanas gregas a 10 anos caiu para 5,57% no início de Setembro, antes de subir para 10,68% no início de Janeiro. No entanto, as rentabilidades não voltaram a atingir esses máximos e cifravam-se em 8,89% no dia seguinte às eleições.

As instituições europeias tomaram medidas para reduzir o risco sistémico no espaço da moeda única e diminuir o risco de contágio, entre as quais se incluem as seguintes:

• Operações de refinanciamento direccionadas de longo prazo (TLTRO);

• Programa de Transacções Monetárias Directas (OMT);

• Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) e Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE);

• Programa de Flexibilização Quantitativa aberto.

Muitas destas medidas, porém, dependem de reformas estruturais em curso e de pouco serviriam à Grécia, embora ajudassem a proteger outros Estados-membros da Zona Euro, caso a Grécia saísse.

O programa de Flexibilização Quantitativa da Zona Euro deverá ajudar a subir as projecções de inflação na região, fomentar a economia e reduzir a exposição dos mercados de obrigações dos países periféricos ao aumento dos níveis de volatilidade.

Uma saída da Grécia da Zona Euro e qualquer situação de incumprimento da sua avultada dívida poderia afectar gravemente a credibilidade da União Europeia, abalando os fundamentos dos tratados que mantêm a coesão entre os seus membros. Entretanto, o aumento da popularidade de outros partidos eurocépticos na região poderá levar outros países, como a Espanha, a procurar renegociar os termos do resgate com a Troika.

Um processo de negociação rápida entre a Troika e o novo governo seria a melhor solução tanto para a Europa como para os mercados, sobretudo se reforçasse a importância das reformas económicas necessárias para o crescimento económico a longo prazo.

Implicações a nível de investimento

Os investidores que detêm activos gregos poderão ser os maiores perdedores com o resultado das eleições e com o longo período de incerteza que poderá provocar nos mercados, sobretudo se a banca grega continuar a debater-se com problemas de liquidez devido à fuga de depósitos.

Importa realçar que a região está agora muito mais forte do que em 2012, altura em que os investidores se viram pela última vez a braços com um período de incerteza decorrente de eleições gregas. A saída da Grécia da Zona Euro é improvável, mas as incertezas que pairam sobre o novo governo e sobre a renegociação do memorando de resgate com a Troika irão criar volatilidade nos mercados, pelo que os investidores não deverão descartar completamente tal saída.

As incertezas a nível político irão continuar a afectar os mercados europeus, apesar das melhorias que se fazem sentir na conjuntura económica. Este ano, o crescimento europeu poderá surpreender pela positiva, sustentado por uma quebra do euro, pela redução dos custos energéticos e pelo baixo custo de financiamento às famílias e às empresas. Os investidores, porém, não deverão ignorar a possibilidade de um recrudescimento das tensões políticas na Zona Euro causar volatilidade nos próximos meses. 

Ver comentários
Ver mais
Publicidade
C•Studio