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Pedro Santos Guerreiro psg@negocios.pt
04 de Setembro de 2009 às 11:26

Sei o que fizeste no Verão passado

O fim do "Jornal Nacional" da TVI é um escândalo para a democracia portuguesa. É ruinoso para o negócio espanhol. Tem consequências políticas inevitáveis, mas imprevisíveis. E está feito. Esta é uma indisfarçável história de pressões. E de depressões.

O fim do "Jornal Nacional" da TVI é um escândalo para a democracia portuguesa. É ruinoso para o negócio espanhol. Tem consequências políticas inevitáveis, mas imprevisíveis. E está feito. Esta é uma indisfarçável história de pressões. E de depressões.

Só um idiota acredita que a Prisa suspendeu o "Jornal Nacional" "por razões económicas relacionadas com uma reestruturação em curso". Uma "reestruturação em curso" não suspende programas na véspera. Nenhum gestor mata galinhas dos ovos de ouro ou acaba com um programa polémico e campeão de audiências, para mais num período eleitoral, quando o noticiário político é prato forte.

Os números provam-no: depois de Moniz sair, em Julho, a TVI teve as piores audiências em nove anos; quando se soube ontem da saída de Manuela Moura Guedes, as acções da dona da SIC dispararam. E os investidores estão-se nas tintas para teorias de conspiração, o que fazem é contas. Pinto Balsemão teve este Verão dois grandes amigos: o seu cliente Zeinal, com quem fez lucrativos acordos de conteúdos; e o seu concorrente Polanco, empenhado em destruir valor da TVI.

Se não foram critérios económicos os que levaram a Prisa a acabar com o "Jornal Nacional", só podem ter sido critérios políticos. A TVI já não é "uma televisão feita por si", é uma televisão feita por eles. Os patrões neutralizaram os chefes, espanhóis que respeitam tanto a liberdade de imprensa portuguesa como Hugo Chávez: "Por que no te callas?". Claro que se cala. Bastou dar a ordem.

Os jornais portugueses têm a ensinar aos espanhóis em matéria de liberdade de imprensa. O que a administração da Prisa fez foi uma ingerência que é inaceitável em Portugal e também devia sê-lo em Espanha. E esse escândalo é um facto, não é uma suspeita. Essa gente não merece respeito.

A suspeita chega quando se pensa nas razões que levaram à suspensão. Ou melhor: para agradar a quem? Ao PS, que deita foguetes com o fim de um jornalismo que odeia? Ou contra o PS, que assim se vê suspeito de "asfixia democrática"?

A ironia de ver ontem Augusto Santos Silva defender o programa de Manuela Moura Guedes só é ultrapassada pela de Moura Guedes sair desta história como a heroína do jornalismo em Portugal. Muitos jornalistas, muitos telespectadores, abominam o trabalho daquele programa; outros admiram a irreverência e desmando; todos defendem, ou deviam defender, a liberdade de expressão que o fim do programa reduz. O "Jornal Nacional" não era jornalismo de referência. Nem era jornalismo de reverência. Por isso acabou.

O facto é que o Governo, na voz do primeiro-ministro, criticou o "Jornal Nacional" sem rodeios e com insultos: "Aquilo é um telejornal travestido!". O facto é que Manuela Moura Guedes, que fazia o jornal, e José Eduardo Moniz, que a amparava, saíram ambos da TVI entre duas eleições. Se uma e outra coisa estão relacionadas, é suspeita, insinuação ou perfídia. Mas, como dizia ontem Moniz, só tem a ingenuidade no seu "portfolio" quem quer.

Na noite em que venceu as eleições legislativas, Sócrates gritou: "Amigos e camaradas: conseguimos!". Pois conseguiram. De tanto o desejarem, conseguiram que a informação da TVI sucumbisse. Na melhor ou na pior altura? Na pior, é claro. Pelo menos para nós.

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