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Socialismo Tecnológico - II

A Internet, em duas décadas, contribuiu mais para a libertação dos indivíduos e dos povos do que o movimento comunista ao longo de um século.

Por uma razão. O comunismo sempre se entendeu como um movimento de cima para baixo; enquanto a Internet como um processo de baixo para cima.

Na teoria, de Marx, o comunismo é uma boa ideia. Abolição das classes e do Estado, livre associação dos indivíduos, economia distributiva segundo as necessidades de cada um. Na prática, contudo, o comunismo, sobretudo após Lenine, entendeu-se como conquista do aparelho de Estado a partir do qual se implementam top-down as grandes mudanças sociais e culturais. Resultado: regimes ditatoriais, opressão generalizada, ausência de liberdade e iniciativa, incompetência económica.

Pelo contrário, a Internet, criação libertária que nunca se pensou como vanguarda de coisa nenhuma, tem vindo a realizar parte significativa do projeto comunista. Aboliu fronteiras, diferenças de classe, étnicas e culturais, gerou uma economia do talento, da dádiva e da troca, permitiu a mais livre e total expressão de ideias (mesmo as que se opõem ao próprio meio). Mais do que uma nova ideologia, a Internet criou uma nova cultura.

A esquerda atual é ainda, na sua essência, herdeira do comunismo leninista. Ou seja, continua a pensar que só é possível realizar as transformações, que julga ser necessário empreender na sociedade, a partir da conquista do Estado.

Ora a realidade vem demonstrar que as novas tecnologias da informação, e sobretudo a Internet, têm um poder de transformação muito superior a qualquer ação via máquina do Estado. Aliás, a política corrente mostra como o Estado é um aparelho no mínimo conservador e em geral opressivo e prejudicial à vida e liberdade dos cidadãos.

A força da Internet reside em dois grandes pilares que estão ausentes da prática partidária e da atividade do Estado. Partilha e cooperação. Fomos educados na convicção de que as pessoas estão agarradas à posse, à propriedade, e detestam a ideia de partilhar com os outros aquilo que lhes pertence. Esquece-se contudo que a partilha, enquanto ação de muitos, dá origem a uma efetiva cooperação de que todos beneficiam. A partilha neste sentido é sobretudo um ato de pragmatismo, serve para aprender e melhorar capacidades próprias. É isso a rede. Veja-se o sucesso das redes sociais ou o extraordinário sucesso da Wikipedia, do Creative Commons, em que os autores autorizam o uso por outros das suas criações ou do Open Source, verdadeiro modelo de uma economia não-capitalista.

Tudo isto significa que a esquerda histórica e convencional está a ser claramente ultrapassada, nas suas próprias premissas, pela cultura da Internet. Ou seja, enquanto os partidos e organizações que se pretendem da esquerda continuam a perseguir o velho sonho da conquista do aparelho de Estado, como forma de realizar uma sociedade mais justa e mais livre, esta já está a ser criada, todos os dias, por milhões de utilizadores da Internet em todo o mundo.

O socialismo da ação política e partidária está definitivamente obsoleto, enquanto um novo socialismo on-line e de base tecnológica vai crescendo e realizando, sem moralismos nem fanatismos, verdadeiras revoluções económicas e culturais.

Não penso, como alguns, que basta integrar na prática política corrente estes novos meios e novas ideias. Não é criando meros sites e páginas no Facebook que os partidos se adaptam à realidade. Não será, por essa via ingénua, que os velhos partidos "falam" com os jovens. Como se a Internet fosse uma coisa exclusiva da juventude e não um movimento civilizacional global.

Em suma, um novo socialismo, e mesmo se se quiser um novo comunismo de perfil libertário (tal como o foi na origem), vai emergindo completamente à margem das velhas ideologias, do papel do Estado e do próprio capitalismo.

Assim, mais do que reformar partidos e organizações de classe, importa sobretudo sociabilizar por todos os meios as novas tecnologias, tornando-as ainda mais acessíveis, pois é dessa sociabilização que nascerá uma sociedade mais justa, mais livre, mais participada e, já agora, mais criativa.

Este artigo de opinião foi escrito em conformidade com o novo Acordo Ortográfico.

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