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A fractura do Ocidente

A embaixada dos EUA em Teerão foi invadida em Novembro de 1979 por estudantes em protesto contra o asilo dado por Washington ao Xá deposto pela revolução islâmica. Durante aquela que ainda é a mais longa crise de reféns de sempre (444 dias), seis americanos conseguiram escapar e encontraram refúgio na embaixada do Canadá.

A ajuda deste país e uma ardilosa encenação sobre a produção de um filme de ficção científica, passada para a sétima arte na película "Argo", vencedora do Óscar de melhor filme em 2012, foram determinantes para garantir o regresso dos seis americanos à sua pátria. No fim, o governo americano declarou-se eternamente grato pelo papel desempenhado pelo Canadá na salvação dos seus.

Saltemos até Junho de 2018. O Quebeque recebe uma cimeira do G7 para tentar recuperar bases mínimas de entendimento sobre temas centrais, como o combate às alterações climáticas ou a aplicação de tarifas aduaneiras, e devolver alguma estabilidade à ordem internacional. Donald Trump abandona mais cedo o encontro e no caminho acusa, em vários "tweets", o primeiro-ministro canadiano de ser "desonesto e fraco" a propósito de declarações em que este critica as ameaças proteccionistas do Presidente americano.

Seria o Canadá de hoje tão colaborante e prestável numa crise como a de 1979 no Irão? É possível que sim, mas podemos duvidar do empenho. E essa é uma dúvida terrível, porque representa a rarefacção do tecido que antes juntava com inquestionável força uma comunidade de países aliados com valores comuns.

Em vez da tranquilidade, mesmo que temporária, de um comunicado conjunto do G7, tivemos a fractura expressa num G6 com os EUA à margem, ilustrada nesse magnífico postal que é a foto divulgada pela delegação alemã, com Trump irredutivelmente sentado e todos os outros líderes de pé.

Podemos achar que os excessos e a litigância de Trump são uma performance com limites bem definidos, destinada a obter dividendos políticos, sem nunca chegar a rasgar a corda. Mas a confiança dos velhos aliados vai-se esboroando e depois do Quebeque a fibra dessa corda ficou muito mais fina.

As escolhas que o Presidente dos EUA faz para amigos e inimigos são reveladoras. Ao mesmo tempo que afronta a Alemanha, o Canadá ou o México, procura a reabilitação da Rússia e o fim das sanções pela invasão da Ucrânia. Antagoniza Merkel ou Macron, mas mostra simpatia por líderes populistas e autocráticos. São estes os novos aliados dos EUA? É a aliança transatlântica do Ocidente já uma ficção?

Este é o Trump que conseguiu uma cimeira histórica com Kim Jong-un, que pode significar o início da pacificação da península da Coreia. É também o mesmo que empurra o Ocidente para um perigoso cisma.

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