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Manda quem passa os cheques

A dimensão da economia brasileira vai superar a do Reino Unido até ao final deste ano. Rússia e Índia também estão a trepar posições entre as dez maiores economias do Mundo.

A dimensão da economia brasileira vai superar a do Reino Unido até ao final deste ano. Rússia e Índia também estão a trepar posições entre as dez maiores economias do Mundo. Pelo final da actual década, estarão à frente da Alemanha e de França. E o cenário não ficaria completo caso não se acrescentasse que, no início de 2011, a China superou o Japão e posicionou-se no segundo lugar do "ranking".

As previsões são do Centre for Economics and Business Research e falam por si. O mundo, tal como existia no início do século XXI, vai estar quase irreconhecível dentro de alguns anos em resultado do crescimento acelerado das nações emergentes, com destaque para aquelas que são incluídas na sigla BRIC. E a ascensão de uns, significa a queda de outros.

Neste jogo de reajustamentos e de reequilíbrios, a Europa é quem mais recua para dar lugar às novas potências e aos novos centros de poder. A liberalização do comércio mundial está na origem das mudanças. Deu o impulso para uma redistribuição do rendimento a nível global e transformou em vencedores países que, há algumas décadas, não passavam de promessas adiadas e, nalguns casos, de futuro duvidoso. A Europa não soube antecipar as consequências e não conseguiu reagir.

A crise das dívidas soberanas é o factor conjuntural que está a retardar o regresso do crescimento ao Velho Continente. Mas basta recordar a célebre "estratégia de Lisboa", que prometia transformar a região na mais competitiva do Mundo em 2010, para se recuperar a noção de que o fosso já estava a ser cavado muito antes de os credores terem começado a fechar a torneira, assustados com a espiral de perda de competitividade e aumento do endividamento que agora ameaça a Zona Euro e a própria coesão da União Europeia.

Se aquela estratégia pretendia ser a receita do sucesso quando nasceu, acabou por se revelar um estrondoso fracasso. Esgotados os dez anos que prometiam a prosperidade, sobrou um mero objectivo traçado a régua e esquadro nos gabinetes de eurocratas e decretado em cimeiras políticas tão vistosas nas suas proclamações, quanto inconsequentes nos seus efeitos práticos.

A história da decadência europeia é feita de regulamentos, directivas, livros brancos e livros verdes que deram trabalho a muitos técnicos e decisores. Enquanto a China despertava, a Europa entreteve-se a elaborar documentos. Enquanto a Índia começava a libertar-se da pobreza a que parecia condenada, a Europa sentou-se, orgulhosa do seu "modelo social", mas sem entender que, a prazo, não teria meios para suportar os seus custos.

Quem quer mandar no seu destino precisa de reduzir a dependência de terceiros. A Zona Euro tem de se reformar mas, no curto prazo, se quer captar financiamentos para resolver os seus problemas tem de ir buscá-los onde o dinheiro existe em excesso e entrar num jogo em que as amizades servem as aparências e os interesses preenchem a substância. Em estado de necessidade, forçado a ceder poder e soberania por causa dos erros acumulados, também Portugal se colocou a jeito. Para os países emergentes que dispõem de meios para as aproveitar, Portugal é uma terra de oportunidades. O poder perde-se e quem manda é quem passa os cheques.

joaosilva@negocios.pt

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