Foi lançada, em Oliveira do Hospital, uma nova estrutura para desenvolver a economia circular em Portugal. Chama-se Cluster Portuguese Circularity e nasceu de uma parceria entre o CECOLAB e a Associação Smart Waste Portugal, numa combinação de investigação, tecnologia e indústria. O objetivo, garantem os promotores, é apoiar as empresas na adoção de modelos circulares.
O cluster integra já 72 entidades, entre empresas, instituições científicas, associações e municípios, que, no total, são responsáveis por um volume de negócios superior a 3,8 mil milhões de euros e mais de 42 mil trabalhadores.
Apesar dos avanços na agenda da sustentabilidade, Portugal continua entre os países da União Europeia (UE) com menor taxa de utilização circular de materiais: 2,8% em 2023, muito abaixo da média europeia de 11,8%. A preparação para reutilização e reciclagem de resíduos urbanos mantém-se em torno dos 30%, mais uma vez longe das metas comunitárias, o que representa um desafio para o país. É neste contexto que o Cluster Portuguese Circularity quer atuar como resposta estratégica, ajudando a definir metas ambiciosas para acelerar a transição para uma economia mais eficiente e regenerativa.
Na sessão de apresentação, que aconteceu em Oliveira do Hospital, o presidente do CECOLAB destacou o impacto do projeto para os territórios do interior, afirmando que estas regiões “têm potencial de se afirmar perante as grandes cidades”. O cluster, diz João Nunes, quer colocar Portugal “ao nível internacional, com uma base sólida na economia circular”.
Para a vice-presidente da CCDR-Centro, Alexandra Rodrigues, a economia circular deve ser vista como “a locomotiva para levar o desenvolvimento aos vários territórios” e encontra em Oliveira do Hospital um espaço estratégico para garantir capilaridade nacional.
Os objetivos do cluster para os próximos cinco anos incluem a colocação de 200 novos produtos ou serviços circulares no mercado, a captação de mais de 50 milhões de euros em investimento de risco, a capacitação de 10 mil profissionais e a criação de grupos de trabalho com clusters nacionais e europeus. Estão ainda previstas missões empresariais internacionais e a criação da marca Circularity Portugal, a que se juntam três prémios anuais dedicados ao ESG, ao carbono e à inovação. Nos planos está a ambição de desenvolver ferramentas estratégicas, como um serviço de identificação de oportunidades de investimento.
Miguel Brandão, professor do KTH – Royal Institute of Technology, lembrou durante o evento de apresentação que nem todas as práticas consideradas sustentáveis reduzem verdadeiramente o impacto ambiental, sendo necessário assegurar avaliações rigorosas das medidas. “É preciso fazer as contas de forma sistemática e ver o trade-off”, sublinhou.
A partir dos baixos níveis de circularidade nacionais, o grande objetivo do Cluster Portuguese Circularity é elevar estes números e atingir 5% nos próximos cinco anos.