
A China anunciou esta quarta-feira novos compromissos para combater as alterações climáticas, nomeadamente o objetivo central de reduzir, até 2035, as suas emissões de gases com efeito de estufa entre 7% e 10%. De acordo com o presidente Xi Jinping, o país quer ainda multiplicar por seis a capacidade eólica e solar na próxima década.
“A transformação verde e de baixo carbono é a tendência do nosso tempo. Apesar de alguns países irem contra essa tendência, a comunidade internacional deve manter-se no caminho certo, com confiança inabalável e esforços incansáveis”, declarou, numa mensagem em vídeo transmitida na Cimeira de Líderes das Nações Unidas.
Sem citar diretamente os Estados Unidos, Xi Jinping deixou uma crítica implícita ao discurso de Donald Trump, que na véspera, na Assembleia-Geral da ONU, se referiu às alterações climáticas como “um embuste”, considerando os cientistas “estúpidos”. O presidente norte-americano voltou a repetir a intenção de retirar os EUA do Acordo de Paris, que procura limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus.
Esta é a primeira vez que a China, o maior emissor do mundo, se compromete com cortes nas emissões, em vez de apenas limitar o seu crescimento. Apesar do simbolismo, peritos citados pela Reuters consideram que o objetivo de redução de até 10% está longe dos 30% considerados necessários para alinhar com a meta nacional de neutralidade carbónica até 2060.
Li Shuo, diretor do China Climate Hub da Asia Society, considera que o anúncio reflete a prudência política habitual de Pequim. “O compromisso representa um movimento cauteloso que prolonga uma tradição de decisões previsíveis e graduais, mas também esconde uma realidade económica mais significativa”, afirmou, citado pela agência internacional.
Segundo o investigador, a rápida expansão chinesa nas energias renováveis e nos veículos elétricos mostra que o país tem capacidade para ir além da meta anunciada. “A retirada de Washington pode empurrar a China para um papel mais ativo no palco global”, acrescentou.
Em Nova Iorque, o presidente do Brasil, que acolhe a COP30 já em novembro, avisou que, se nada for feito, “a sociedade vai deixar de acreditar nos seus líderes” e que o negacionismo “pode mesmo vencer”. Lula da Silva lembrou ainda os compromissos assumidos para a redução 59% a 67% das emissões até 2035, bem como uma maior aposta no combate à desflorestação.
Na Europa, os 27 Estados-membros reuniram-se na semana passada para tentar chegar a um acordo quanto à nova meta climática para 2035, mas sem sucesso. O bloco pretende reduzir as emissões entre 66% e 72% e compromete-se a fechar um valor antes ainda do início da COP30. Em Portugal, a ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, disse que o país não tem “nenhum problema com os 90% [de redução] até 2040”.