O sótão recebe o pleno movimento da tarde de sol, de uma secretária onde escreve em português para outra onde escreve em checo. Separa as línguas mas não se separa a si próprio. Jorge, que adoptou Portugal no final dos anos 50 por amor a uma mulher portuguesa, ainda é Jirí, o rapaz que nasceu e cresceu em Praga, e o jovem que viveu a ocupação nazi, aprendendo que as civilizações, por mais fortes que pareçam, são frágeis. Se vivemos num tempo de fim do mundo quer dizer que vivemos também o tempo de início de outro. Jorge Listopad, figura maior do teatro português, homenageado em Novembro passado pelos seus 90 anos, tem paixão pelo futuro. O futuro é a possibilidade de transformação. A partir de 14 de Junho mostra, na Sala Estúdio do Teatro D. Maria II, uma adaptação de Guimarães Rosa. É uma história de uma metamorfose. Não uma metamorfose como a de Kafka, seu conterrâneo, mas uma metamorfose em que devíamos acreditar: motivada pelo amor.