Ana Brandão: Procuro a verdade, seja cruel ou não
Encontrámo-nos no pátio da Casa Independente, em Lisboa, perto de onde mora, numa tarde de Agosto vazia. É uma lisboeta com raízes minhotas. Tem um misto de alegre e triste, comovente e desconcertante. É de uma timidez que se torna esfuziante. Em palco, cresce, cada noite cresce. Em palco, tudo custa menos ou, pelo menos, nada é irremediável. Descobriu-o por acaso há já 20 anos. Depois, fez cinema, com João César Monteiro, e, mais recentemente, com Margarida Gil. Fez televisão e só pode ser um elogio que na rua a abordem dizendo que é parecida com uma actriz. Não se acha cantora, mas canta ainda há mais tempo do que representa. Trabalhou durante uma década com Carlos Bica, canta com os Real Combo Lisbonense. O poder do palco pode ser tão protector que foram precisas muitas personagens para ter vontade de estar em palco apenas com ela mesma.
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1. Eu andava num grupo de teatro amador, mas nunca tinha pensado ser actriz. Foi o meu namorado que viu no jornal um anúncio para um curso de teatro e inscreveu-me. Depois disse-me: "Amanhã tens audição." "Tenho audição?" Nunca tinha feito nada disso. Estava lá escrito que era preciso um texto contemporâneo e um texto clássico e então pedi ajuda a uma amiga que estava no Conservatório. Ela é que me disse o que é que eu devia decorar. Era um bocadinho da Irina, de "As Três Irmãs" [de Tchekhov]. Do clássico já não me lembro, era uma tragédia qualquer, mas só fiz a Irina. Era uma audição a sério, com os professores todos a ver e eu nem sabia quem é que tinha ali à minha frente: o João Brites, a Manuela de Freitas, o [Jorge] Silva Melo. Tinha ido ao teatro uma vez na vida, com o meu pai, ver a "Annie", o musical.
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