Quando, em 1996, Manuel Ramirez decidiu encerrar a fábrica de Vila Real de Santo António, sofreu. "Foi extremamente doloroso para mim", revela o empresário. Afinal de contas, foi ali, há 163 anos, o berço do negócio da família, fundado pelo seu bisavô - as conservas Ramirez. Ele próprio nasceu naquela cidade algarvia e em criança sujou os pés na fábrica que deu emprego a muita gente. Mas agora as memórias tinham de ficar apenas reservadas às fotografias. A escassez de matéria-prima, em consequência da "falta de uma política de pescas lógica" na União Europeia, ditou o fim daquela unidade. "A frota foi desaparecendo, ao passo que aqui ao lado, em Espanha, foi aumentando", lamenta o presidente do conselho de administração da conserveira mais antiga do mundo em laboração. Era cada vez mais caro ter peixe para trabalhar no Algarve por causa do transporte. Foi preciso tomar uma decisão dura e a produção passou para a fábrica de Peniche. Gerir um negócio de família coloca muitas vezes estes dilemas entre o coração e razão.