José Jorge Letria: Temos medo da história
É preciso cantar os heróis, é preciso celebrá-los. Temos medo de heroicizar, temos medo que isso seja uma celebração excessiva, nacionalista e patrioteira. Em menino, era ele, o pai e um cão, o Black. E o mar. É a primeira imagem do filme da sua vida. José Jorge Letria escreve sobre o pai, sobre a mãe, sobre os animais, escreve sobre tudo. Nasceu em Cascais, numa terra de elites, onde, na missa, as famílias abastadas tinham o nome inscrito em placas de prata e onde os filhos de pescadores andavam descalços pelas ruas. Assim se foi politizando. E cantando. E escrevendo. Um dia, na faculdade de Direito, uma menina magra, pálida, com sardas, aparece-lhe com um papelinho na mão: gosto das coisas que cantas, deixo-te este texto. O texto chamava-se "Arte Poética" e a menina chamava--se Hélia Correia. José Jorge Letria cantou com José Mário Branco, cantou com Zeca Afonso. Jornalista, foi testemunha de uma revolução antes de ela acontecer. Foi membro do Partido Comunista até 1991. Integrou o PS, foi vereador da Cultura da Câmara de Cascais. É presidente da Sociedade Portuguesa de Autores.
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"Café?", oferece. "Eu bebia muitos cafés, mas vieram as arritmias, fui abrandando, agora bebo descafeinado. Há um mês e pouco, fiz uma intervenção ao coração, puseram-me uma rede de titânio. Experiências destas, eu tenho tido algumas engraçadas. Não tenho uma visão catastrofista, a vida é feita destas coisas, e de outras, mas eu tenho vivido, não digo no limite, mas numa zona avançada a caminho do limite. O que faz com que eu encare estas e outras coisas como sobressaltos naturais da existência e sem nenhuma lamúria. Passo em diante, cá estou eu".
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