O rico, esse dono de tanta coisa
No rico, esse dono de tanta coisa, é o pária do mundo moral contemporâneo, o leproso social.
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Não há ultraje maior. Suponham: o sujeito vai a atravessar a rua e alguém o invectiva: "Rico! Rico!" E vejam, o agressor já procura nos sombrios transeuntes, que o espanto parou, a solidariedade contra esse mal transumante: "Este gajo é rico!" O rico, esse dono de tanta coisa, é o pária do mundo moral contemporâneo, o leproso social. No corpo e na alma do rico há, e reparem como o jovem moralista se lambe com a enumeração, vagas de lava corrupta, um vulcão de egoísmo, labaredas de impiedade e ganância. Isto indigna e não me admira que, um dia, até um clone de André Ventura apareça ao lado dos anjos luciferinos do Climáximo a incendiar bancos. Ora o meu primitivo espírito de cristão agnóstico, se me é autorizado o péssimo oxímoro, quer matizar essa visão diabólica do rico. O rico, esse homem branco, capitalista e ocidental, esses Rothschild, esses Bill Gates, esses Buffetts merecem um meloso pingo da minha compaixão. Espantem-se. Os economistas fizeram um estudo – se bem sei foi a revista Time que o publicou – e o homem mais rico de sempre não é branco, nem europeu, nem americano, que ainda Colombo não tinha plantado a América onde agora ela está. O homem mais rico de sempre é Mansa Musa, africano, imperador do Mali no século XIV. Amealhou, e não é o termo correcto, uma fortuna que aos dias de hoje andaria perto dos 400 mil milhões (os biliões da minha infância) de euros. Quais moedas, Carlos, quais moedas! Era mesmo ouro o que escorria das mãos de Musa, cerca de metade de todo o ouro do mundo que então se conhecia. E sal, toneladas de sal, a temperar tamanha riqueza.
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