Têm sido labirínticos, voláteis e, por vezes, extremamente divertidos os caminhos da arte urbana em Portugal. Lembro-me, ainda não há muito tempo, de ter perguntado a um "writer", um autor de arte urbana, nacional se podia ficar com o contacto dele, ao que este me respondeu que não o dava a ninguém, porque "trabalhava clandestino". Isto, ao mesmo tempo que expunha os seus trabalhos, claro. Como sabem aqueles que, de algum modo, acompanham o fenómeno, a arte urbana tem já mais de quarenta anos de história e foi sempre uma expressão artística e cultural associada a marginalidade e desvio, especialmente devido à ocupação ilegal de espaços públicos com as manifestações de desenho, ainda chamadas de "grafitti". Foi só neste século que o talento e a visibilidade mediática de alguns "writers", como Banksy, obrigaram à abertura de um novo mercado, que rapidamente se tornou global. Hoje, os principais autores são figuras cimeiras da arte contemporânea e os seus trabalhos chegam facilmente às centenas de milhares de euros. A extrema comunhão entre os temas e os traços dominantes da arte urbana e algumas das principais linhas da arte contemporânea, especialmente a crítica política e social, é uma das razões principais para que tal aconteça.