Os primeiros dias para o arranque de uma nova TV
A CMTV arranca as emissões no domingo. Equipa de informação, de produção e de realização estão em contagem decrescente para a estreia na posição 8 do Meo. Com um investimento que ronda os cinco milhões de euros, Octávio Ribeiro, director do projecto, quer ter um canal generalista onde prevaleça a notícia. Em três anos, quer ser líder no cabo.
Octávio Ribeiro, mentor da CMTV, acredita que o projecto tem as condições para chegar, daqui a três anos, à liderança na plataforma Meo.
O pontapé de saída ainda não foi dado. Ainda se treina. Mas é um treino sério, uma espécie de jogo de pré-temporada em que se afinam as tácticas e os últimos passes para entrar, daqui a dois dias, em ritmo de alta competição. Deixemos as metáforas futebolísticas. No "Correio da Manhã", o jogo é outro, é o da notícia. É atrás dela que os jornalistas correm. Só que, a partir de domingo, estas passarão a ser dadas também em televisão.
À entrada da redacção, 19h00, em frente aos computadores, enfileiram-se mais de oito jornalistas. Diogo Carreira, jovem jornalista que ganhou experiência televisiva no Económico TV, dá indicações a alguns colegas que estão, agora, a editar peças. Fá-lo com dinâmica, à cabeceira da ilha onde está concentrada a zona da edição. Não pára, levanta-se, volta, não se cala. Conversa com dois colegas. É necessário acelerar o ritmo. Daqui a uma hora, se a emissão estivesse no ar na posição 8 do Meo, todas as peças que estão a ser editadas entrariam no alinhamento do jornal que arranca às 20h00. O canal ainda não está no ar. Mas trabalha-se como se estivesse.
"Agora vamos ao texto. Entra no vídeo. Vais escrever dentro de parênteses para não entrar no teleponto", indica Diogo a uma jornalista de imprensa do "CM". Cristina Rita, depois de ter escrito para a edição de papel do dia seguinte, está a editar uma peça que entrará no alinhamento do Jornal das Oito. A notícia em causa é sobre os principais temas debatidos hoje no Parlamento. A jornalista da secção de política está "mesmo no 'deadline'". Lacónica, diz: "é um desafio"; e repete: "é um desafio". Não tem tempo para mais palavras.
"Gozem porque nunca se irão esquecer"
No dia-a-dia dos mais jovens, é notório o entusiasmo estampado nos rostos. Como se quisessem entrar já em directo: é a ansiedade. Carlos Rodrigues, que saiu da SIC para se tornar director-adjunto da CMTV, em relação aos mais jovens diz que o mais difícil é "aguentar a ansiedade que têm para começar". O jornalista sabe do que fala. Carlos Rodrigues está a viver, pela segunda vez, o lançamento de um projecto televisivo. Era até há bem pouco tempo subdirector de informação da SIC, empresa onde participou no nascimento da SIC Notícias. "São momentos fantásticos. Digo-lhes sempre para nunca se esquecerem do que estão a viver. 'Gozem porque nunca se irão esquecer'. Tento passar-lhes isso. Tudo o que está a acontecer é normal e, por outro lado, irrepetível e inesquecível", afirma. Ao todo, a Cofina contratou 72 pessoas. Destas, 15 são jornalistas.
Para além dos mais novos e das chefias, a equipa conta com nomes experientes na área da informação televisiva. Andreia Vale, depois de anos na SIC, irá apresentar o jornal da tarde. João Ferreira, Cátia Nobre, Rui Pedro Vieira e Sara Carrilho são outros nomes experientes que figuram na equipa de informação da CMTV. No menu da programação, o novo canal da Cofina servirá, de manhã, aos portugueses, um programa apresentado por Maya e Nuno Graciano. Graciano, de helicóptero, dará conta das ocorrências do trânsito. Sempre que houver uma notícia importante, a emissão será interrompida. A ideia, durante grande parte do dia, é concorrer com os canais generalistas.
"Estaremos a concorrer com as estações nacionais de informação sempre que haja uma notícia relevante. A notícia, se a direcção a considerar suficientemente relevante, prevalecerá sempre sobre o que está planeado em grelha. Isso faz parte do nosso compromisso com o telespectador", afirma Octávio Ribeiro, director do "Correio da Manhã" e mentor do projecto.
A partir de domingo, Octávio Ribeiro concretiza um sonho que alimenta desde que entrou para a Cofina. Mas o projecto, como explica, a dada altura ficou suspenso. "Quando o grupo era accionista de referência da Zon, já tinha este projecto concluído a nível de planeamento. Foi obviamente à Zon que o apresentei, primeiro, juntamente com um administrador. A Zon não se mostrou interessada". Com a PT, diz, tudo foi diferente.
"Quando tive oportunidade, apresentei o projecto à liderança operacional da PT. Esta mostrou-se, de imediato, muito interessada". O investimento, cujos valores não revela, andará abaixo dos cinco milhões de euros. O retorno, em matéria de receitas publicitárias, estará assegurado. "Sei que as previsões cobrem o que é necessário para o projecto ter êxito e sei também que são conservadoras, até porque o mercado está como está...", diz o director do projecto.
A fusão harmoniosa de que Octávio Ribeiro fala é testada todos os dias. A começar pelas chefias. São cerca de 19h30. Armando Esteves Pereira, director-adjunto do "Correio da Manhã", dirige-se a Tiago Rebelo. Comunica a este qual será a manchete que o jornal dará no dia seguinte. É um exclusivo do "Correio da Manhã" sobre mais medidas de austeridade que estão a ser ponderadas pelo Governo. A notícia podia ir para o ar no Jornal das Oito. Sendo um exclusivo, Armando Esteves explica ao coordenador de informação que a direcção decidiu guardar a notícia para ser a manchete do dia seguinte.
O relógio aproxima-se das 20h00. Rebeca Venâncio, uma das últimas contratações da CMTV ao "Diário Económico", não desvia o olhar no monitor do computador. Concentra-se na segunda peça que monta desde que chegou ao "Correio da Manhã". É sobre um assalto a um "call center". O canal ainda não está no ar. Mas não há tempo a perder. "A peça é para entrar no jornal das oito. Em situação real, era possível que fosse mais ajustada para o final do jornal. Agora ainda temos essa margem de erro. Depois não vai haver margem para errar".
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