Gestão da energia para rankings "não é boa governação", diz Borges de Assunção

O economista defende que o apagão deve obrigar a repensar estratégias a longo prazo e que gerir a energia "para os rankings ou para determinadas metas não parece ser boa governação" de um recurso essencial para toda a economia.
Gestão da energia para rankings "não é boa governação", diz Borges de Assunção
Cláudia Arsénio e Marta Velho 30 de Abril de 2025 às 13:29

O apagão que deixou Portugal sem eletricidade durante cerca de 12 horas teve um impacto pequeno na economia, mas os analistas mostram-se mais preocupados sobre o que diz das fragilidades do setor elétrico nacional. O economista João Borges de Assunção diz que é "difícil medir em tempo real", mas é "importante o trabalho que está a ser feito, de ir perguntando aos vários setores, tentar ter uma ideia dos custos que os diferentes setores vão ter".

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"Penso que como foi um evento que ocorreu apenas durante um dia, a perda a ocorrer será pequena - e estamos a falar de poucas décimas do PIB - o que não significa que não haja prejuízos significativos em várias empresas, em vários setores, mas para a atividade económica e para os indicadores mais importantes como o emprego e coisas desse género, obviamente que vai ser uma coisa episódica, temporária, que vai desaparecer no universo dos dados", afirma em entrevista ao Negócios no NOW.

No entanto, defende o professor da Universidade Católica Portuguesa, o apagão "abre uma reflexão sobre a qualidade do sistema elétrico e as vulnerabilidades do sistema". No seu entender, o acontecimento de segunda-feira "pode obrigar a algumas alterações nas estratégias que os vários países têm para a produção de energia elétrica".

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"Convém que as autoridades desenhem um sistema que seja robusto e com critérios de racionalidade, com critérios que - e eu não estou a dizer que não o sejam, acredito que o são - mas provavelmente, às vezes, quando se faz gestão para os rankings ou para determinadas metas, apenas fixado no cumprimento das metas e para apresentar na fotografia que fomos o primeiro país a atingir essa meta, isso não parece ser boa governação. A boa governação é garantir que todos podemos beneficiar de um recurso que é essencial para toda a economia", defende.

O economista considera ainda que é positiva a "integração da produção de eletricidade, quer entre Portugal e Espanha, portanto o espaço ibérico, quer entre a Península Ibérica e o resto da Europa, porque isso, no fundo, permite canalizar energia sedentária de uns sítios para os outros". No entanto, sublinha, isso "não significa que não tenha que haver sistemas secundários às tais redundâncias. Isso é um problema complexo, não tenho conhecimentos suficientes para saber como é que isso deve ser feito, mas houve aqui claramente uma falha qualquer no sistema, a eletricidade não falhou na Madeira e nos Açores".

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