Augusto Mateus: “Não há ajustamentos com gelados e bolos, são penosos e destrutivos”
O ex-ministro da Economia reconheceu que equilibrar austeridade e crescimento é tão difícil quanto usar em simultâneo cachecóis do Benfica e Porto, exortando os empresários têxteis a "ajudarem o País" a terminar o programa da troika.
Augusto Mateus já consegue ver a economia portuguesa "numa grande velocidade de ajustamento", apontando o contributo da "recuperação do efeito da incerteza" na melhoria recente de alguns indicadores de actividade económica. O sofrimento desse processo foi e continuará a ser inevitável, avisou.
"Não vale a pena querermos ajustamentos com gelados, com bolos. Eles são penosos e destrutivos. Há sempre um período de destruição", alertou o ex-ministro da Economia durante o Fórum Têxtil, que decorre esta quarta-feira em Famalicão, acrescentando que a reforma do Estado é "decisiva" e também não será "doce".
Ainda que compreenda o difícil equilíbrio entre austeridade e crescimento - "a dificuldade era usar ao mesmo tempo um cachecol do Benfica e do Porto" -, o economista lamentou a penalização do sector privado com impostos nos últimos anos, em vez da concentração da austeridade no sector estatal, concretizando que "em Portugal gosta-se de distribuir o mal pelas aldeias".
"Precisamos de finanças sustentáveis. Se não fizermos a adaptação na coisa pública, se não alterarmos os nossos modelos de gestão empresarial, então teremos outro programa de ajustamento, mais tarde ou mais cedo", antecipou. A falta de pulso político foi outro dos diagnósticos deixados sobre a situação em Portugal, onde "os governos sucedem-se não porque a população acredite nos seus méritos mas porque já não acredita naqueles que se vão embora".
Perante uma plateia de duas centenas de empresários do sector têxtil e de vestuário, este consultor privado que o Governo convidou para assessorar a arquitectura do novo QREN sustentou que "sem terminar este programa [da troika] não se consegue reduzir o risco do País" e deixou um repto: "ajudem, à vossa escala, o País a fazer este percurso, a preparar a recuperação. Se não fizermos bem, o próximo ciclo de ajustamento poderá ter 90 meses".
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