BCE quer ambiente no centro da primeira revisão estratégica em 17 anos. Mais flexibilidade na calha
Numa audição pública com cerca de 20 organizações, Lagarde admitiu que as questões ambientais seriam uma das prioridades da próxima revisão estratégica do banco. As velhas questões com a inflação e flexibilidade da política monetária estiveram presentes no debate.
A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse que o ambiente seria a "prioridade" da primeira revisão oficial dos mandatos do banco em quase duas décadas, mantendo a necessidade de mais flexibilidade na política monetária no seu discurso, numa altura em que se espera que o banco siga as pisadas da Reserva Federal dos Estados Unidos, no campo da inflação.
Num dia marcado por protestos ambientais à porta da sede do BCE, em Frankfurt, lá dentro, Lagarde era confrontada por várias associações ambientalistas sobre o papel que a instituição tinha na promoção de um futuro mais sustentável, na sua primeira audição pública com mais de 20 organizações da sociedade civil, no âmbito da revisão estratégica da política monetária que irá durar até junho do próximo ano. Apesar de olhar para a estabilidade dos preços como o seu mandato principal - uma vez que a inflação tem falhado consecutivamente o alvo de cerca de 2% - a líder do BCE respondeu aos críticos, dizendo que
De acordo com um estudo realizado entre a Greenpeace, a New Economics Foundation (NEF) e várias universidades do Reino Unido, cerca de 63% da dívida empresarial que o BCE comprou recentemente, foi para apoiar setores que trabalham com energia fóssil de forma direta ou indireta.
A instituição liderada por Christine Lagarde compra as chamadas "green bonds", dívida destinada a financiar projetos sustentáveis, desde março de 2015 e emitidas por empresas desde junho de 2016. Sabe-se também que a partir de janeiro do próximo ano irá comprar os tais títulos verdes e aceitá-los como garantia nas suas operações de refinanciamento.
De acordo com o banco, em 2018 foram emitidos 120 mil milhões de euros em obrigações verdes, que compara com os mil milhões levantados dez anos antes.
Os fantasmas da inflação e uma bazuca permanenteApesar da preocupação mostrada com as questões ambientais - em linha também com a líder da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen - a principal "dor de cabeça" de Lagarde é a constante falha em atingir as metas de inflação, numa altura em que parece provável que o BCE siga os passos da Fed, com a entrada de uma inflação móvel nos seus mandatos, que serão apenas revistos em junho do próximo ano.
A necessidade de uma remodelação na forma como o BCE olha para a inflação tem vindo a ser vincada desde o início deste ano por vários membros da instituição. O governador do Banco da Finlândia, Olli Rehn, reforçou por diversas vezes a ideia de uma alteração oficial para um conceito semelhante ao introduzido por Draghi e idêntico ao agora adotado pela Reserva Federal dos Estados Unidos.
No encontro anual em Jackson Hole, o presidente do banco central norte-americano Jerome Powell anunciou uma alteração na sua política sobre os preços no consumidor, adotando um objetivo móvel para a inflação, que permite a este indicador estabelecer-se acima dos 2% por largos períodos. Isto para que Jerome Powell, o líder da instituição, tenha mais flexibilidade para manter as taxas de juro em mínimos históricos e continuar a injetar dinheiro na economia, sem ter de mudar de rumo no caso de uma subida desmedida dos preços. Outra das preocupações recorrentes para Lagarde é o aumento de flexibilidade nos programas de compra de ativos para que seja possível atingir o alvo da inflação. Em
A primeira revisão estratégica em quase duas décadas
O banco encabeçará uma revisão nos seus mandatos em junho do próximo ano, sendo que será a primeira vez que o fará desde 2003, altura em que o teto de inflação foi definida nos 2%. No entanto, a ideia geral de que é necessária uma nova reforma ganhou força este ano, com o impacto económico da atual pandemia Nesse sentido, o BCE irá fazer novas audições públicas idênticas a esta, onde poderão participar vários quadrantes da sociedade. T
Na atual revisão em curso, o BCE tem sete grandes pilares em análise, de acordo com o definido na última reunião de política monetária a 10 de setembro. A inflação é a prioridade, como referido anteriormente, mas a este ponto juntam-se outros como a digitalização cambial, as questões ambientais e também uma questão que tem protagonizado muitos dos discursos de Lagarde: a interação com a política orçamental.
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