Economia está "muito centrada no consumo e nos gastos públicos", alerta Caldeira Cabral
Perante os mais recentes dados das exportações, o antigo ministro da economia alerta que, se a tendência não se alterar, Portugal pode assistir a um "abrandamento do crescimento continuado para a frente".
Apesar de as exportações portuguesas terem crescido 14,3% em setembro - invertendo a tendência negativa dos três meses anteriores - Manuel Caldeira Cabral continua a alertar que 2025 "poderá ser um dos anos mais fracos", com o crescimento das exportações abaixo da média. "Estamos menos num crescimento puxado pelas exportações do que o contrário", disse, em entrevista ao programa do Negócios no canal NOW.
"Os dados de setembro corrigiram um bocadinho um tom muito negativo que estava a haver nas exportações, mas só corrigiram um bocadinho. Quando olhamos para os dados do ano todo, vemos que 2025 não está um ano muito feliz nas exportações e, principalmente, segue-se a 2024 que também já não foi um ano de grande crescimento das exportações", indica. Tal significa "que o crescimento da economia portuguesa, além de estar a abrandar, está agora muito mais centrado no consumo e nos gastos públicos. E a margem de défice para crescer pelos gastos públicos está-se a esgotar. Portanto, isso significa que se não houver alterações neste campo, podemos ter este abrandamento do crescimento continuado para a frente, o que não era desejável".
Ainda assim, o antigo ministro da Economia considera que "o sinal de setembro é um sinal positivo", e reflete o fim da incerteza na guerra tarifária com os Estados Unidos - setembro foi o primeiro mês depois de o novo acordo comercial entre a União Europeia (UE) e os Estados Unidos ter entrado em vigor. "A questão das tarifas, e a estabilização desta situação, mesmo numas tarifas muito mais elevadas do que no passado, pode ser um fator positivo porque a incerteza é a pior barreira comercial de todas", aponta.
No caso das exportações para a Alemanha, em particular, que dispararam 97,5%, Caldeira Cabral lembra que "muitas das nossas exportações para a Alemanha também são exportações indiretas para os Estados Unidos". Além disso, explica, "tem havido, em algumas fábricas, problemas com os chips e abastecimentos e, portanto, paragens de produção ou reduções de produção, com depois um arranque mais forte da produção no mês seguinte". A Bosch é um exemplo, "mas há vários outros casos de empresas, de fornecedoras, por exemplo, de componentes mais pequenas, que também tiveram paragens e às vezes não chegam a ter paragens, mas têm abrandamentos da produção e depois um reforço da produção com horas extras no mês seguinte".
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