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Parabéns Sr. Draghi!

O presidente do BCE faz hoje 65 anos. Não terá muito tempo para festejos. É sobretudo tempo de mostrar o que pode e o que manda.

03 de Setembro de 2012 às 16:18

Sem muito tempo para festejos – hoje estará reunido à porta fechada com eurodeputados da comissão de assuntos financeiros –, Draghi consumirá os próximos dias a preparar a decisão – e a respectiva comunicação – sobre o novo modelo de intervenção do BCE no mercado de dívida.

São várias as frentes a que Draghi tem de fazer frente. Há largas semanas que trava uma dura batalha com o presidente do Bundesbank que não vê com bons olhos a possibilidade de serem retomadas as compras de dívida no mercado secundário que, no passado, serviram de meras aspirinas no alívio da febre dos juros de Espanha e de Itália.

Rompendo com a aura de circunspecção que tradicionalmente envolve os banqueiros centrais, Mário Draghi e Jens Weidmann têm exposto as suas divergências e argumentos na praça pública.

Weidmann adverte que a medida poderá "ser viciante como uma droga", alegando que distorcerá os mercados (podendo inclusive gerar mais inflação, se as compras de dívida não forem neutralizadas com retirara de liquidez) e adormecerá os incentivos para que os Governos façam as reformas estruturais necessárias.

O presidente do banco central alemão acusa ainda o BCE de estar a ir além do seu mandato, argumentando que não são bancos centrais, mas os Governos do euro (e respectivos parlamentos, igualmente eleitos) que têm a legitimidade para decidir se e como ajudam um parceiro soberano.

Bundesbank isolado?

Aliados tradicionais do Bundesbank, como os dirigentes dos bancos centrais da Finlândia e da Holanda, terão votado ao lado do presidente do BCE. Nem Jörg Asmussen, o alemão que integra a comissão executiva (órgão máximo) do BCE e que em tempos trabalhou lado a lado com Weidmann no Governo de Angela Merkel, tem apoiado o seu compatriota.

Draghi concede pertinência aos argumentos do Bundesbank, mas tem sublinhado que a defesa do euro exige no imediato “medidas excepcionais”, porque é preciso pôr cobro aos “medos irracionais” que grassam nos mercados sobre a possibilidade de a união monetária acabar - e que tornam insustentáveis os custos de financiamento de Espanha e de Itália. Ainda assim, o italiano tem garantindo que as intervenções respeitarão os limites do mandato do BCE, que está expressamente impedido de financiar países do euro e cuja primeira missão é controlar o

crescimento dos preços.

Porque no te callas?

Pela insistência com que tem pedido publicamente a intervenção do BCE no mercado de dívida, e pela veemência com que se tem recusado a que uma eventual assistência seja acompanhada de novas exigências às políticas de Madrid, Rajoy tem sido uma sombra quase diária sobre a propalada independência do BCE.

Na expectativa da generalidade dos analistas, esta quinta-feira será o “Dia D” e será então que Draghi terá de mostrar o que pode e manda, e o que quis dizer em Agosto quando afirmou que o BCE faria o necessário para salvar o euro.

A reunião mensal do Conselho de Governadores deverá definir o novo modelo de intervenção do BCE que, ao contrário do que sucedeu no passado, exigirá o pedido formal de assistência de um país ao fundos de resgate (FEEF/MEE). Resta saber que tipo de condições e de mecanismos de acompanhamento ficarão atrelados a este expediente.

Alguns analistas antecipam ainda que o BCE poderá voltar a descer os juros de referência (actualmente em 0,75%), esperando-se que no encontro desta quinta-feira se proceda a uma discussão mais profunda sobre se, a caminho da tal união bancária, Frankfurt ficará encarregue da supervisão de todos os cerca de seis mil bancos da Zona Euro (como parece ser a preferência da Comissão Europeia), ou apenas dos maiores, como defende o Governo alemão.

Existe, porém, a probabilidade de o BCE adiar o anúncio de decisões até que seja conhecida a posição do Tribunal Constitucional alemão. Na próxima semana, 12 de Setembro, os juízes irão determinar se o novo fundo de resgate – o Mecanismo Europeu de Estabilidade (sucessor do actual Fundo Europeu de Estabilidade) – viola ou não as competências do Bundestag. A expectativa é que aprovem o MEE, ainda que com "ses". Mas se sair um "nein", é toda a estratégia que defesa do euro que cairá por terra.

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