Neste momento, Dilma Rousseff não está a ser acusada de corrupção. Nem de tráfico de armas, nem de homicídio, nem de canibalismo. Neste momento, não está a ser acusada de nada que dê cadeia.
Bruxelas só terá margem de manobra para ir pela via menos arriscada da "cenoura" e evitar desencadear o "chicote" das sanções se Centeno der garantias firmes e credíveis de que, neste ano e, pelo menos, no seguinte o défice ficará aquém dos 3%. E Centeno não deu.
Qualquer que fosse o governo, Portugal estaria neste momento de candeias às avessas com Bruxelas para fazer um Orçamento perfeitamente coerente com as regras e compromissos europeus, o que significaria reduzir anualmente o défice estrutural em pelo menos 0,5 pontos percentuais a caminho do equilíbrio e manter o nominal abaixo de 3% do PIB.
Faz agora dez anos que Angela Merkel é chanceler da Alemanha. Ao longo desta década, nunca o seu partido – a CDU, que se apresenta nas eleições federais coligada com a CSU (os conservadores da Baviera) – obteve maioria absoluta.
Dilma Rousseff foi reeleita em 26 de Outubro de 2014 pela margem mais curta da história da democracia brasileira. Duas semanas depois, dois indicadores que deveriam ter saído antes das eleições revelavam que a miséria no país crescera pela primeira vez em dez anos, e que, em vez de excedente, o Brasil acumulava o maior défice orçamental primário desde 1997.
Uma narrativa mais informada mas igualmente simplista poderia, portanto, concluir que quem mais tem "lucrado" com a crise grega tem sido a própria Grécia, que em dois anos terá poupado três vezes mais em juros do que a Alemanha em cinco. Para de seguida sugerir que serão, afinal, os governos gregos que arrastam os pés para perpetuarem a crise e suas benesses.
"Pequeno Tratado das Grandes Virtudes" foi escrito por André Comte-Sponville, filósofo contemporâneo francês, que inclui entre estas o humor. "O humor ri de si, ou do outro como de si, e sempre se inclui, em todo o caso, no disparate que instaura ou desvenda".
Há pouco mais de uma semana, o "Efimerida to Syntakton", jornal tido como próximo do Syriza, noticiou uma alegada conspiração orquestrada a partir do banco central grego presidido por Yannis Stournaras, antigo ministro das Finanças do ex-primeiro-ministro conservador Antonis Samaras. Objectivo: "Transformar o primeiro governo de esquerda num mero parêntesis".
Comparar o programa dos economistas do PS ao apresentado pelo ministro grego das Finanças ao Eurogrupo para endireitar a Grécia é de uma maldade atroz mas irresistível. Porque ambos dependem enormemente do que outros façam ou deixem fazer, e apresentam contas que nos trazem à memória o velho ditado de que quando a esmola é grande o pobre desconfia.
Durante a última campanha para as presidenciais francesas, o "Nouvelle Observateur" publicou um texto paródia onde concluía pela improbabilidade da eleição de François Hollande porque, ao longo da V República, a estatura dos seus presidentes sempre se revezou entre mais altos e mais baixos, e François Hollande conseguia ser um centímetro ainda mais pequeno do que Nicolas Sarkozy, que já media menos 22 centímetros do que Jacques Chirac.