Plano de ajuda à Grécia acentua clivagens na UE
Os avisos têm sido insistentes e aparentemente inflexíveis. Hoje, coube a vez a Volker Kauder, líder da bancada parlamentar da CDU, o partido de Angela Merkel, vir a público frisar o que a chanceler já ontem dissera. Não vamos aprovar nenhum pacote de ajuda à Grécia.
Já de Espanha, que assume a presidência da UE, estão a vir sinais mais conciliatórios: ajudar a Grécia é uma responsabilidade europeia, porque em jogo está o euro, alega Madrid.
Ambos referiam-se à cimeira europeia que terá lugar em Bruxelas nesta quinta-feira e da qual o primeiro-ministro grego, George Papandreou, anseia poder sair uma clarificação sobre o papel que os parceiros europeus podem desempenhar numa eventual operação de resgate à Grécia.
“Vamos ter uma cimeira nesta semana em Bruxelas. Mas nenhum plano de ajuda à Grécia será aí decidido”, disse Volker, em entrevista à televisão pública ZDF.
Já ontem, Angela Merkel havia batido na mesma tecla. Lembrando que a Grécia tem conseguido financiar-se nos mercados internacionais (ainda que a taxas de juros muitíssimo elevadas), a chanceler frisou que o país “não está insolvente, pelo que não faz sentido estar neste momento a falar de auxílio”, nem criar “ilusões” aos investidores. “Estamos sempre a dizer que o que chamamos de mercados respondem sempre a sinais. Acho, pois, importante que não criemos ilusões”.
A presidência espanhola da União Europeia (UE) tem porém uma opinião distinta e quer que os mecanismos de uma eventual ajuda financeira à Grécia sejam aprovados nesta cimeira, indo ao encontro das aspirações de Atenas. "A presidência espanhola vai trabalhar para isso", declarou à imprensa o ministro dos Negócios estrangeiros espanhol, Miguel Angel Moratinos.
Em declarações à chegada do encontro mensal entre os chefes da diplomacia europeia, que hoje decorre em Bruxelas, Moratinos frisou que em jogo não está apenas o futuro a Grécia. "É um momento importante para o futuro da UE, do euro. Vamos fazer todos os esforços para dar esta confiança, esta solidariedade que acredito que (a Grécia) merece graças às medidas que o governo de (Georges) Papandreou já tomou", argumentou, citado pela agência Lusa.
A presidência espanhola da UE junta-se assim a Atenas mas também à Comissão Europeia que defendem que da cimeira desta semana saia “fumo branco” em torno de um mecanismo de ajuda financeira à Grécia – possivelmente empréstimos bilaterais coordenados pela Comissão – que só será utilizados em caso de necessidade.
Juros gregos voltam a disparar
“Não estamos a pedir dinheiro dos contribuintes alemães, italianos ou de outros trabalhadores europeus. O que estamos a dizer é que precisamos de um apoio político forte para fazer as reformas necessárias e para garantir que não vamos pagar mais do que o necessário para o fazer”, disse Papandreou na semana passada.
“Ter esses mecanismos aprovados (pelos líderes europeus), pode ser o suficiente para dar um sinal aos mercados para que se afastem, para que não especulem, para que deixem este país fazer o que está a fazer, para que nos dêem paz para podermos ir por diante”.
Os juros das obrigações a 10 anos da dívida grega voltaram hoje a disparar para 6,49%, aumentando para 350 pontos base o “prémio de risco” face à taxa de 3,08% que os investidores reclamam para comprar dívida alemã, a referência do mercado.
Vários responsáveis alemães tem vindo a público defender que, em caso de necessidade, a Grécia deve apelar ao Fundo Monetário Internacional, que é a organização com experiência e meios para resgatar soberanos. A OCDE, por seu turno, acredita que uma boa solução passará por uma intervenção articulada entre a UE e o Fundo.
Mais lidas