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Erdogan, o "beyefendi" que comanda a Turquia há duas décadas

No poder desde 2002, primeiro enquanto primeiro-ministro e depois como presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan enfrenta este domingo um dos maiores desafios à sua liderança depois do golpe de Estado falhado de 15 julho de 2016.

Recep Tayyip Erdogan
Recep Tayyip Erdogan Bernadett Szabo / Reuters
13 de Maio de 2023 às 14:00
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Na sexta-feira, o presidente turco comparou as eleições de domingo com o golpe de Estado falhado de 2016. "Se for necessário, tal como na noite de 15 de julho [de 2016], defenderemos a nossa independência e o nosso futuro, inclusive com as nossas vidas", declarou no Twitter. A comparação não é nova e o ministro do Interior, Süleyman Soylu, no final de abril, tinha afirmado algo semelhante: "O 15 de julho foi uma tentativa de golpe literal; o 14 de maio é uma tentativa de golpe político."

A relação entre os dois acontecimentos mostra como estas eleições representam para Erdogan um dos seus maiores desafios em mais de duas décadas de poder. As sondagens dão a vitória a Kemal Kiliçdaroglu, candidato de uma aliança formada por seis partidos da oposição, e o chefe de Estado turco opta por abanar as bandeiras do caos em que o país irá cair se tal acontecer. Alguns analistas políticos apontam mesmo para a forte possibilidade de o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) contestar os resultados em caso de derrota.

Mas quem é o homem à frente dos destinos da Turquia há 20 anos? Entre os mais próximos, Recep Tayyip Erdogan é designado de "beyefendi" (cavalheiro, em turco), já os admiradores chamam-lhe "reis" (chefe). Líder carismático, de discurso duro e postura inabalável, Erdogan tem resistido mas também reforçado os poderes presidenciais ao longo dos anos.

Comecemos pelo início. Em 1994 era eleito presidente da câmara de Istambul pelo Partido do Bem-Estar (Refah, em turco), cargo que ocupa durante quatro anos, altura em que se demite após ser condenado a dez meses de prisão, sob a acusação de "incitamento ao ódio religioso". 

O Refah conhece o fim em 1998 e Erdogan ajuda na fundação do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) em 2001. Um ano depois, em novembro, consegue a maioria absoluta nas legislativas e mantém-se como primeiro-ministro entre 2003 e 2014. Como os estatutos do AKP impediam um quarto mandato como primeiro-ministro, Erdogan surge como candidato presidencial, cargo que ocupa até agora. Nesta altura, o presidente ainda é uma figura com poderes apenas protocolares.

Em 2016, o golpe de Estado falhado é o mote para Erdogan colocar em prática várias medidas repressivas: tem nas mãos as Forças Armadas, faz uma "limpeza" em larga escala na função pública, há detenções e julgamentos. O chefe de Estado aproveita ainda para reforçar os poderes presidenciais e são aprovadas em referendo alterações à Constituição, que incluem a abolição do cargo de primeiro-ministro, tornando o presidente o chefe executivo do Governo.

Fica pronto o caminho para a Turquia se tornar uma República presidencial. Erdogan passa a ser o único responsável pela nomeação e demissão direta do primeiro escalão do poder, incluindo ministros e juízes; tem poderes para governar por decreto se necessário; e o mandato presidencial passa a ser de cinco anos.

Filho de uma família modesta muçulmana conservadora, imigrantes da Geórgia, cresceu na região do Mar Negro mas aos 13 anos muda-se para Istambul. Quase foi jogador profissional de futebol, mas a passagem pela universidade, onde estudou Administração, finta-lhe o caminho. Nessa altura, anos 70, começa a frequentar meios conservadores e nacionalistas muçulmanos, onde reforça as suas convicções políticas.

Quando se torna primeiro-ministro, esforça-se por mostrar proximidade ao Ocidente para acalmar receios sobre a subida ao poder do islão conservador na Turquia, mas aos poucos começa a ver o mundo sob polos opostos: Ocidente e muçulmanos. A visão política estende-se à económica e Erdogan vê o país entrar em recessão e a moeda nacional perder valor.

Com a pandemia da Covid-19, em 2020, as vozes críticas em relação à ação do governo são silenciadas. Aliás, desde que é presidente, mais de 100 mil funcionários públicos e militares foram demitidos ou dispensados, há milhares de prisioneiros políticos e, segundo a Plataforma para o Jornalismo Independente, uma organização turca, mais de 150 jornalistas estão detidos desde o golpe de Estado de 2016.

Mulçumanos e conservadores constituem a maioria dos seguidores de Erdogan, que consideram que o político conseguiu mudar a imagem da Turquia no plano internacional. Do lado dos críticos, Erdogan é visto como um "sultão" autoritário, que controla os meios de comunicação social e coloca os opositores na prisão enquanto o país empobrece.

Erdogan tem ainda em Vladimir Putin um apoiante nas eleições de domingo, depois de o presidente russo o ter classificado de líder com "objetivos ambiciosos". Desde o início da guerra na Ucrânia que o chefe de Estado turco tem conseguido equilibrar a relação que tem com Moscovo sem pôr em causa as alianças que detém a Ocidente. 

Há ainda quem veja em Erdogan o seu próprio inimigo. O político de 69 anos tem revelado ao longo dos últimos anos uma saúde frágil e nesta campanha eleitoral houve uma entrevista na televisão que chegou a ser interrompida devido a uma indisposição. O presidente turco já foi submetido a várias cirurgias gastrointestinais no passado e a sua saúde passou a ser fonte de especulação. Também já houve rumores, durante a campanha, de um ataque cardíaco e não tem passado despercebida a sua figura pálida, frágil e adoentada.

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