EUA e Europa já estão a trabalhar nas "garantias de segurança" para a Ucrânia
Washington e capitais europeias avançam para um pacote robusto de garantias militares à Ucrânia, num esforço para preparar o terreno para um possível encontro entre Zelensky e Putin.
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Os Estados Unidos e a União Europeia decidiram trabalhar de imediato na criação de um pacote de garantias de segurança à Ucrânia, numa tentativa de reforçar a posição de Kiev antes de eventuais negociações diretas com Moscovo. De acordo com fontes citadas pela Bloomberg, o objetivo passa por criar compromissos firmes de apoio militar que não imponham limitações à dimensão ou à capacidade das forças ucranianas, afastando a hipótese de restrições que a Rússia poderia tentar impor num futuro acordo de paz.
A decisão surge na sequência da cimeira desta segunda-feira realizada na Casa Branca, que reuniu Donald Trump, Volodymyr Zelensky e vários líderes europeus. O encontro resultou numa sinalização mais clara da Casa Branca em favor da segurança de Kiev, depois das dúvidas geradas pela reunião entre Trump e Vladimir Putin no Alasca. “Durante o encontro discutimos garantias de segurança para a Ucrânia, que seriam fornecidas por vários países europeus em coordenação com os Estados Unidos”, escreveu Trump na rede Truth Social.
Entre os líderes presentes, ganhou força a ideia de estabelecer garantias “semelhantes ao Artigo 5 da NATO”, um conceito inicialmente proposto pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni. Ainda assim, os detalhes sobre o formato concreto, a eventual criação de uma força multinacional e o grau de envolvimento norte-americano continuam a ser negociados, segundo as mesmas fontes.
A reunião marcou um ponto de viragem no diálogo entre Washington e as capitais europeias. Se até aqui pairavam dúvidas sobre a disposição de Trump em endurecer perante Moscovo, o encontro de segunda-feira trouxe algum alívio às preocupações em Kiev e Bruxelas. Keir Starmer, primeiro-ministro britânico, sublinhou que “as garantias de segurança não são apenas para a Ucrânia, mas também para a União Europeia e para o Reino Unido”, numa demonstração de que o tema extravasa a esfera ucraniana e toca diretamente na arquitetura de defesa do continente.
Apesar do tom mais positivo, persistem divergências. Enquanto Washington não considera essencial um cessar-fogo imediato como pré-condição para a reunião tripartida anunciada por Trump, vários líderes europeus insistem nessa exigência. O chanceler alemão, Friedrich Merz, foi dos mais assertivos: “Não consigo imaginar que a próxima reunião se realize sem um cessar-fogo. Vamos trabalhar nesse sentido e pressionar a Rússia.” Uma posição partilhada pelo presidente francês Emmanuel Macron e reforçada por outros líderes europeus.
No plano político, o encontro também deixou espaço para momentos mais simbólicos. Trump voltou a mencionar a hipótese de uma troca territorial entre Moscovo e Kiev, uma proposta controversa e que já tinha levantado tensões em encontros anteriores. Segundo relatos, o presidente norte-americano terá apresentado um mapa com as regiões atualmente ocupadas pela Rússia, numa tentativa de pressionar Zelensky a considerar concessões. Ainda assim, Kiev continua a colocar as garantias de segurança no centro da equação.
A União Europeia deverá ser formalmente informada esta terça-feira sobre os resultados das conversações em Washington. O dossiê ucraniano entra, assim, numa nova fase, com a promessa de garantias militares sólidas e o desafio de conciliar posições divergentes entre aliados ocidentais e a própria Ucrânia.
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