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Von der Leyen: "Uma nova Europa deve emergir. Este é o momento para a independência da Europa"

No debate do Estado da União, a presidente da Comissão Europeia apelou a uma maior união entre os Estados-membros, salientando que a UE não deve ficar "paralisada" por divisões. Defendeu que a UE deve afirmar-se no panorama internacional e tornar-se mais autónoma.

Von der Leyen: 'Uma nova Europa deve emergir. Este é o momento para a independência da Europa'
Von der Leyen: "Uma nova Europa deve emergir. Este é o momento para a independência da Europa" Ronald Wittek / Lusa - EPA
09:01

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendeu esta quarta-feira que deve emergir uma "nova Europa", num contexto de "guerras imperialistas" e "em que as dependências são instrumentalizadas sem pudor". "Este é o momento para a independência da Europa", defendeu a líder do executivo comunitário, na abertura do debate do Estado da União, em Estrasburgo.

"Não podemos esperar que esta tempestade passe. Este verão mostrou-nos que simplesmente não há espaço nem tempo para adotarmos uma postura contemplativa. As linhas de batalha para uma nova ordem mundial estão a ser traçadas neste momento. Por isso, sim, a Europa tem de combater. Combater pelo seu lugar num mundo em que muitas grandes potências adotam atitudes ambíguas ou abertamente hostis face à Europa", defendeu.

O apelo surge numa altura em que a , depois de um verão agitado que gerou críticas dos vários quadrantes políticos. Em causa estão os e com o Mercosul; as divergências em relação ao orçamento europeu de longo prazo; e as dificuldades em chegar a um cessar-fogo na Ucrânia e em Gaza. Em julho, .

Perante os eurodeputados, Ursula von der Leyen apelou a uma maior união entre os Estados-membros, salientando que a UE não deve ficar "paralisada" por divisões. "De cada vez que a Europa se une, é bem-sucedida. E é o que temos de fazer agora", defendeu. "A questão central é simples: temos estômago para lutar? Temos unidade, sentido de urgência e vontade política?", questionou, apelando aos eurodeputados para que respondam a esse apelo.

"Já perdi conta às vezes que me disseram que a Europa não era capaz de fazer isto ou aquilo. Durante a pandemia. Em relação ao plano de recuperação. No domínio da defesa. No que respeita ao apoio à Ucrânia. Em relação à segurança energética. E em tantos outros casos. A verdade é que Europa se manteve unida e superou sempre os obstáculos", reiterou.

Ursula von der Leyen defendeu que a UE deve tornar-se mais autónoma e reduzir dependências estratégicas, sobretudo no que toca à energia e tecnologias. "Estou convicta de que esta é a missão da nossa União. Sermos capazes de assegurar a nossa própria defesa e segurança. Assumirmos o controlo das tecnologias e energias que estimularão as nossas economias", elencou, sublinhando que, com isso, a UE tem "a liberdade e o poder de determinar o seu próprio destino".

A Europa tem de combater. Combater pelo seu lugar num mundo em que muitas grandes potências adotam atitudes ambíguas ou abertamente hostis face à Europa (...) É neste contexto que é imperativa a emergência de uma nova Europa. Este tem de ser o momento da independência europeia. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia.

Defender "cada milímetro" do território europeu

Sobre a guerra na Ucrânia, Ursula von der Leyen reconheceu que as imagens da cimeira do Alasca entre os Estados Unidos e a Rússia – em que o presidente russo, Vladimir Putin, foi recebido com passadeira vermelha – "não foram fáceis de digerir", mas garantiu que a UE continua empenhada em alcançar um cessar-fogo e que vai avançar com um novo pacote de sanções à Rússia. Comprometeu-se ainda a entrar numa aliança de drones com a Ucrânia, de 6 mil milhões de euros.

Ursula von der Leyen fez saber que já foram concedidos "cerca de 170 mil milhões de euros" em ajuda militar e financeira à Ucrânia e que a UE "precisa fazer mais". "Não devem ser apenas os contribuintes europeus a suportar o custo desta guerra. Esta é a guerra da Rússia. E é a Rússia que deve pagar", enfatizou, avançando que a UE está a trabalhar numa nova solução para "financiar o esforço de guerra da Ucrânia tendo por base os ativos russos imobilizados".

Lamentando a , a presidente da Comissão Europeia anunciou que ainda a UE vai investir na proteção do flanco leste da Europa, "do Báltico ao Mar Negro", capaz de dar respostas "em tempo real" às ameaças russas junto à fronteira europeia. "A Europa defenderá cada milímetro do seu território", disse. Avançou ainda que irá propor uma cimeira da Coligação dos Dispostos para o retorno de todas as crianças que foram levadas da Ucrânia. "Todas as crianças têm de regressar à Ucrânia", referiu.

Suspensão da ajuda a Israel aplaudida

Um dos anúncios mais aplaudidos no hemiciclo foi a suspensão de alguns dos projetos de cooperação da UE com Israel. "O que está a acontecer em Gaza abalou a consciência mundial", frisou Ursula von der Leyen. "A fome deliberada não pode nunca ser usada como arma de guerra. Pelas crianças, pela humanidade, esta situação tem de acabar. É um aspeto que também faz parte de uma mudança mais sistemática que ocorreu nos últimos meses e é, simplesmente, inaceitável".

Ursula von der Leyen lamentou a "incapacidade da Europa para chegar a acordo" sobre o reconhecimento do Estado da Palestina, mas sublinhou que a Comissão Europeia deve "manter viva a solução de dois estados". 

Anunciou, por isso, que a Comissão Europeia irá propor que o financiamento do programa Horizonte a Israel seja suspenso, mas recorda que é preciso maioria no Conselho para que a proposta não seja bloqueada. Irá também propor a "suspensão parcial" do Acordo de Associação nas questões relacionadas com o comércio com Israel e propor "sanções contra os ministros extremistas e os colonos violentos".

"Estou ciente de que será difícil reunir uma maioria. E sei que, para alguns, quaisquer medidas tomadas serão sempre demasiado fortes. E, para outros, demasiado fracas. Mas cada um tem de assumir as suas próprias responsabilidades – tanto o Parlamento, como o Conselho, como a Comissão", defendeu.

O "melhor acordo" com os Estados Unidos

Procurando-se defender das críticas em relação ao , Ursula von der Leyen defendeu que a Comissão Europeia trabalhou para conseguir "o melhor acordo possível", que colocasse as empresas europeias "numa vantagem relativa". Mas admitiu que compreende "as reações iniciais", depois de terem sido acordadas .

"A nossa relação comercial com os Estados Unidos é, de todas, a mais importante. Anualmente, exportamos para os Estados Unidos produtos num valor superior a 500 mil milhões de euros. Destas exportações dependem milhares de postos de trabalho. Enquanto presidente da Comissão, nunca porei em risco os empregos ou os meios de subsistência dos cidadãos. Por este motivo, assinámos um acordo para que as nossas indústrias possam continuar a ter acesso ao mercado", explicou.

Para Ursula von der Leyen, a UE alcançou, "sem qualquer dúvida", "o melhor acordo" com os Estados Unidos, dadas as . "Quer se trate de regulamentação ambiental ou digital. Somos nós que ditamos as nossas próprias normas. Nós definimos a nossa própria regulamentação. A Europa tomará sempre as suas próprias decisões", disse.

"Grandes investimentos" no digital e nas tecnologias limpas

Para reforçar a autonomia estratégica da UE e reconhecendo que as dependências da UE tem sido usadas contra os Estados-membros, Ursula von der Leyen garantiu que, nos próximos anos, serão feitos "grandes investimentos no setor digital e nas tecnologias limpas". "Estão previstos mais investimentos no e na duplicação do programa Horizonte Europa, o nosso programa de investigação e inovação", disse.

Assegurou que a UE está a "atacar os ", que vão desde "a energia ao capital, do investimento à simplificação", e que tem reunido com as principais indústrias europeias – do setor automóvel ao dos produtos químicos, farmacêutica, defesa e agricultura. E concluiu: "Em cada setor, a mensagem é a mesma. Para proteger os postos de trabalho, temos de facilitar a atividade das empresas na Europa".

Face a isso, a intenção de Bruxelas é , que preveem "menos burocracia, menos sobreposições e regras menos complexas" para as empresas. "As nossas propostas permitirão às empresas europeias poupar 8 mil milhões de euros por ano em custos burocráticos", enfatizou. Olhando para o futuro, referiu, sem avançar mais pormenores, que estão a ser preparados outros pacotes omnibus, nomeadamente sobre a mobilidade militar e a digitalização.

Será ainda lançado um pacote de estímulo às baterias, que irá disponibilizar 1,8 mil milhões de euros de capitais próprios para impulsionar a produção na Europa. "As baterias são uma peça-chave para a produção de outras tecnologias limpas, em especial de veículos elétricos. Estão na essência da nossa independência", realçou a líder europeia. E piscou o olho aos cientistas mundiais, dizendo que, na UE, "a ciência não tem passaporte, género, etnia ou cor política".

Sobre a inteligência artificial (IA), Ursula von der Leyen referiu ainda que a UE está a fazer "grandes investimentos em gigafábricas de IA europeias", que possam "ajudar as empresas em fase de arranque inovadoras a desenvolver, treinar e implantar modelos de IA da próxima geração".

(Notícia atualizada às 11:07)

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