A política e o entretenimento coletivo. O último artigo de opinião de Teodora Cardoso
Em abril, a economista escreveu para o Negócios o seu último artigo de opinião com uma análise dura à vulnerabilidade do país. Lamentava que a gestão da despesa pública desprezasse o papel do investimento.
O convite da direção do Negócios partiu para uma entrevista em que a economista Teodora Cardoso pudesse fazer uma análise ao "contexto económico e financeiro que vivemos, bem como as questões de política nacional que têm marcado os últimos meses".
Era início de abril, a tensão política era elevada e a comissão de inquérito à TAP tinha levantado voo há poucas semanas no Parlamento. A resposta chegou no final desse mês, declinando o convite para uma entrevista, tal como tinha acontecido com os anteriores, mas com um texto de análise associado.
E a justificação era simples: Teodora Cardoso dizia não querer dar a entrevista por ter desistido "de acompanhar a sucessão de 'fait divers' em que se transformou a política portuguesa, servida pela política económica".
O texto que anexou para publicação, intitulado "A política: ponderação do bem comum ou entretenimento colectivo?" expressava esse mesmo desencantamento. A economista destacava que "a economia portuguesa tem-se revelado altamente vulnerável" com uma governação "conduziu a um desempenho económico medíocre".
"A subida dos níveis de tributação e uma gestão da despesa pública que desprezam o papel do investimento, público e privado, e ignoram a demografia, são os expedientes que temporariamente permitem a aparente generosidade de políticas com impactos políticos imediatos, mas que aumentam continuadamente não só a dependência dos que pretendem proteger, mas também a do país no seu todo com respeito aos apoios europeu", escreveu então Teodora Cardoso. Lei aqui, na íntegra, o último artigo de opinião assinado pela antiga presidente do Conselho de Finanças Públicas para o Negócios. Teodora Cardoso morreu este sábado, aos 81 anos, em Lisboa.
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