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FMI vê impacto limitado da atual subida de juros nos custos da dívida

Apenas um quinto da subida de juros nas transações do mercado deve refletir-se em custos efetivos mais altos no serviço da dívida nas economias avançadas. A prazo, as taxas de juro devem retomar trajetória pré-pandemia.

FMI
FMI Yuri Gripas/Reuters
10 de Abril de 2023 às 16:30

A subida de juros nos mercados internacionais de dívida devido ao atual aperto monetário deverá ter um impacto significativamente limitado nas economias avançadas, e a prazo – ultrapassada a atual crise de inflação – é de esperar um retorno das taxas de juro à tendência do período pré-pandemia, ou seja, a períodos longos de taxas baixas.

 

Se a evolução atual coloca atualmente em stress uma porção significativa das economias emergentes – um quarto poderá falhar pagamentos, segundo antecipou na passada semana a diretora-executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva – o cenário das economias avançadas aparenta ser bastante menos problemático.

 

Cálculos do FMI divulgados nesta segunda-feira - em dois capítulos analíticos que antecedem a atualização de projeções da instituição quanto ao andamento da economia mundial  - apontam para que uma subida de juros nas transações de dívida pública em mercado secundário em 100 pontos-base representem apenas 20 pontos de subida nos custos efetivos de serviço de dívida nas economias avançadas.

 

Já nas economias emergentes e com autoridades monetárias vistas como "fracas", a transmissão da subida de custos atinge os 60 pontos-base, segundo a análise do Fundo, que nesta segunda-feira inicia as suas reuniões de primavera, em conjunto com o Banco Mundial.

 

"Uma das razões por trás destas conclusões pode estar no aumento da maturidade média dos montantes em dívida nos últimos anos", explica a instituição. "Além disso, a credibilidade dos bancos centrais pode ajudar a manter ancoradas as expectativas de inflação. Assim, a inflação e as taxas de juro mais elevadas apenas permeiam os custos de serviço de dívida lentamente", junta.

 

No entanto, alerta o documento, o peso de títulos de dívida pública com maturidades mais curtas – a vencer em 12 meses ou menos – tem vindo a aumentar ao longo dos últimos cinco anos, tanto nas economias emergentes como avançadas, o que deixa os países mais vulneráveis no "rollover" das respetivas dívidas.

 

A análise incluída no documento de Perspetivas Económicas Mundiais, atualizado nesta semana, acompanha também outras conclusões já lançadas pelo FMI no Monitor Orçamental – que também é atualizado agora – e que apontam para um impacto limitado da inflação na subida de custos com a dívida, ao mesmo tempo que a escalada inicial de preços inesperada apoia os Governos na redução de rácios de endividamento, ao acelerar o crescimento do PIB e engordar receitas extraordinariamente.

 

Nos capítulos hoje libertados, o FMI antecipa também que, após debelada a atual crise inflacionista, as taxas de juro deverão voltar a níveis pré-pandémicos  - o que, no caso das economias europeias, significa o regresso a uma tendência de juros muito baixos ou mesmo negativos.

 

"De um modo geral, a nossa análise sugere que as recentes subidas nas taxas de juros reais deverão ser temporárias. Quando a inflação estiver novamente controlada, os bancos centrais das economias avançadas deverão aliviar a política monetária e fazer retornar as taxas de juro reais para os níveis pré-pandémicos", reflete a publicação.

 

A conclusão tem por base a evolução das chamadas taxas de juro naturais  (ou neutrais) – conceito teórico para uma taxa de juro de equilíbrio, sem efeito de choques, num cenário de inflação estável e pleno emprego e consistente com crescimento ao nível do potencial da economia.

 

Contudo, o FMI, acrescenta algumas ressalvas sobre fatores que poderão empurrar as taxas de juro para valores acima da atual tendência "natural". Incluem níveis de dívida e défice mais elevados perante dificuldades em baixar o apoio orçamental às economias – também devido aos investimentos necessários para a transição ambiental – conjugados com um intensificar das forças de "desglobalização" que conduzirão a maior fragmentação financeira e comercial. Neste último cenário, é de esperar uma subida das taxas de juro naturais nas economias avançadas e descida destas nas economias emergentes.

 

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