Porque está Guam na mira da Coreia do Norte?
A troca de declarações incendiadas entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, que ameaçam ataques mútuos e retaliações sempre com o poderio nuclear debaixo de olho, colocaram nas últimas horas a ilha de Guam no centro das atenções, depois de Pyongyang anunciar que está a ponderar um ataque com mísseis àquela ilha no Pacífico ocidental.
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"A força estratégica do Exército Popular da Coreia está agora a examinar cuidadosamente o plano operacional para um cerco às áreas em torno de Guam com mísseis balísticos estratégicos de médio a longo alcance Hwasong-12 para travar as principais bases militares em Guam."
A frase, deixada esta madrugada por porta-vozes do regime norte-coreano na televisão, coloca finalmente um dedo em cima do alvo, depois de meses de tensão: a ilha com pouco mais de 500 quilómetros quadrados de onde têm partido os mais recentes esforços de apoio dos EUA à Coreia do Sul em respostas aos testes de mísseis por parte da Coreia do Norte.
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Ainda na segunda-feira, foi dali que saíram dois bombardeiros norte-americanos B-1 como parte da "presença contínua" na península coreana, para participar em exercícios conjuntos com a Coreia do Sul e do Japão, entendidas como ameaça pelo regime liderado por Kim Jong-un.
Mas porquê Guam? Além de ser base para o apoio a Seul e de estar dentro do alcance dos mísseis desenvolvidos por Pyongyang - uma distância de cerca de 3.400 quilómetros da península da Coreia, quando os Hwasong-12, testados em Maio passado, podem potencialmente percorrer 4.500 quilómetros –, a ilha tem também um peso simbólico para os Estados Unidos, ligado a um episódio fulcral da II Guerra Mundial.
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Parte do arquipélago das Marianas - ilhas descobertas pelo português Fernão de Magalhães em 1521 - Guam foi reclamada por Espanha em 1565 e as Marianas colonizadas a partir de 1668. Em 1898, na sequência da guerra Hispano-Americana, foi incorporada como território norte-americano.
Mas é cerca de meio século mais tarde que entra no imaginário da história contemporânea dos EUA: na semana que marcou a entrada dos Estados Unidos na II Guerra Mundial, as forças japonesas tomaram a ilha em Dezembro de 1941, três dias depois do ataque a Pearl Harbor. Daí o peso simbólico, pelo paralelismo que estabelece com o ataque-surpresa das forças nipónicas a domínios norte-americanos.
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Recuperada aos japoneses no Verão de 1944 – faz esta quinta-feira, 10 de Agosto, 73 anos -, foi em 1950 tornada território norte-americano, com os EUA a deterem um terço da ilha, onde a Sul está instalada uma base naval (Santa Rita) e uma da guarda costeira, enquanto a Norte se situa a base aérea de Andersen em Yigo, esta usada durante a guerra do Vietname.
Os seis mil militares que vivem em Guam dão à ilha de 162.000 habitantes um contributo económico importante sendo a presença militar, a par do turismo, uma das principais fontes geradoras de riqueza.
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Residentes em Guam receosos
A ilha de Guam está protegida pelo sistema THAAD (sistema anti-míssil de defesa de elevada altitude), capaz de abater mísseis balísticos. Este sistema, que está também instalado na Coreia do Sul, consegue interceptar mísseis a altitudes entre os 40 e os 150 quilómetros e com um alcance de até 200 quilómetros.
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Depois de detectada a ameaça via radar, o alvo é identificado e bloqueado, o projéctil interceptor é disparado e destrói, em voo, o míssil que ameaça a localização em causa.
Apesar de o governador da ilha, Eddie Calvo, ter descartado a possibilidade de um ataque, salvaguardando que o território está preparado para qualquer eventualidade, os residentes na ilha dizem-se receosos.
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"Estou um pouco preocupado, um pouco em pânico. Isto vai mesmo acontecer? (…) Se for só comigo, não me preocupa, mas tenho de me preocupar com o meu filho. Apetece-me sair de Guam agora," disse Cecil Chugrad, um motorista de autocarro de 37 anos, à Associated Press.
"Se acontecer alguma coisa, temos todos de estar preparados e rezar a Deus para que nada aconteça. (…) Toda a gente está com medo, porque estão a lidar com poderes que estão para lá de nós," disse Daisy Mendiola à mesma agência.
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Ainda esta quarta-feira, no Twitter, o comando da Força Aérea norte-americana no Pacífico, sediada no Hawaii, disse estar pronto para qualquer eventualidade, com a chegada de pilotos a Guam para conduzir missões bilaterais com o Japão e a Coreia do Sul.
"Prontos para combater esta noite," lê-se na mensagem, que se refere à chegada dos dois bombardeiros B-1, depois de uma missão de dez horas que incluiu a península da Coreia. Os bombardeiros dos EUA estão presentes em permanência na região Indo-Ásia-Pacífico desde 2004.
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S. Dakota #Airmen arrive on Guam; conduct #bilateral missions w/Japan & ROK--U.S. ready to #fighttonight https://t.co/DhOTTdNT19 pic.twitter.com/HSOkYKHPQ4
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Palavras que secundam o que já tinha sido afirmado, também esta terça-feira, por Donald Trump. O presidente norte-americano prometeu responder com "fúria e fogo" às ameaças de Pyongyang.
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