Sapatilhas da Nike mais caras? Incerteza paira sobre marcas de calçado e vestuário americanas
Existem várias marcas norte-americanas de renome cujos processos de fabrico estão muito ligados ao Vietname. São exemplos disso as desportivas Nike e Under Armour, e as retalhistas de moda Gap e Levi Strauss, entre outras. Não é por isso de estranhar que as ações de algumas destas empresas tenham subido em resposta ao acordo comercial firmado pelos EUA com o país asiático.
É que na primeira versão da imposição tarifária dos EUA, as importações do Vietname seriam taxadas acima dos 40%. Com o acordo assegurado esta semana, as importações "apenas" vão ser taxadas a 20%. Na quarta-feira, dia do anúncio do acordo comercial entre os EUA e o Vietname, as ações da Nike subiram 4%, as da Under Armour 2% e as da Levi Strauss também 2%.
PUB
A questão é que apesar de mais baixos, estes 20% ainda são... 20%. E isso tem levado vários analistas a anteciparem um aumento de preço para alguns dos bens produzidos por estas empresas no Vietname, como uma forma de acomodar os custos adicionais.
A CNBC cita três executivos, de forma anónima, ligados ao setor do retalho que confirmam esta tese de "mal menor", mas que terá os seus impactos, alertam. Um destes executivos considerou mesmo as notícias do acordo como "más", mas um outro considerou que "a situação ainda vai evoluir, vamos ver se é definitiva".
Segundo dados da Associação Americana de Vestuário e Calçado, o Vietname é atualmente o segundo maior fornecedor de calçado, vestuário e acessórios de moda dos EUA. E segundo a mesma associação, deverá mesmo tornar-se no principal produtor de calçado das marcas americanas já durante o ano de 2025.
PUB
"Existe algum positivismo e otimismo sobre esta situação ser gerível. Pelo menos temos isso. Não é algo destruidor de negócios, o que é bom. Contudo, isto ainda tem implicações reais, certo?", comentou a diretora da empresa de consultoria AlixPartners, Sonia Lapinsky.
Esta mesma consultora traçou cenários de evolução de preços e prevê que com tarifas de 20%, um par de sapatilhas que tipicamente custa 95 dólares (cerca de 80 euros ao câmbio atual), poderá encarecer até 14 dólares (cerca de 12 euros adicionais).
PUB
Um porta-voz da Nike, ouvido pela agência Reuters, comentou apenas que a empresa ainda está a analisar os detalhes do acordo comercial. Segundo um relatório da própria marca, 50% do calçado da empresa é produzido no Vietname.
"A Nike planeia cirurgicamente os aumentos de preços e antecipamos que este plano avance, com potenciais aumentos superiores ao anteriormente projetado", escreveu o analista Rick Patel, do banco de investimento Raymond James, no dia 2 de julho, citado pela Bloomberg.
Já Paul Cosaro, executivo de uma empresa de fornecimento dos principais retalhistas dos EUA, considera que se o valor das tarifas de 20% tivesse sido anunciado logo em abril (quando na altura foram anunciados 46%), mesmo assim ninguém teria ficado satisfeito. "No final do dia, é mais dinheiro que está a sair do bolso dos consumidores", comentou.
PUB
"Muito deste calçado já tem uma tarifa aplicada de 20%, especialmente em modelos desportivos populares. Colocar novas tarifas em cima das existentes não é apenas desnecessário – é má economia. A administração [Trump] deveria evitar colocar maior pressão sobre as famílias e negócios americanos", comentou Matt Priest, presidente da Associação Americana de Distribuidores e Retalhistas de Calçado, citado pela publicação Inside Retail.
De sublinhar que além da tarifa de 20% sobre os bens importados do Vietname, ainda está por perceber o impacto que a aplicação das chamadas tarifas de transbordo (nas quais o Vietname funciona meramente como interposto comercial), firmadas em 40%, poderá vir a ter na indústria do calçado e vestuário americana em termos de preços.
Saber mais sobre...
Saber mais Preços Tarifas Vestuário Têxtil e vestuário Vietname Nike Inc. Estados Unidos Under Armour Raymond JamesAdam Smith aos 250 anos
Quem pediu o euro digital?
Mais lidas
O Negócios recomenda