Guterres, pessimista com a globalização, pede resposta para os refugiados
A pouco mais de um mês de tomar posse como secretário-geral das Nações Unidas e pouco menos de um ano depois de ter deixado de ser o Alto Comissário da ONU para os Refugiados, António Guterres voltou a abordar aquele que é "provavelmente o mais dramático desafio que enfrentamos no mundo de hoje": os refugiados.
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No âmbito de uma conferência organizada pela Vision Europe Summit e dedicada às crises migratória e dos refugiados na Europa, que decorre esta terça-feira, 22 de Novembro, na Gulbenkian, o secretário-geral eleito das Nações Unidas começou por lembrar que "a migração existe desde o início da história" para depois sustentar que "a migração é parte da solução dos problemas actuais".
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Na opinião de Guterres, esses problemas decorrem, entre outros factores, do facto de a globalização ser "assimétrica". O antigo primeiro-ministro português mostra-se pessimista quanto à evolução do globalismo, considerando que "a globalização não foi um sucesso como esperávamos" e "muita gente ficou zangada com isso".
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"Quando entrei no Governo em 1995 havia grande optimismo. O mundo mudou para melhor em muitas coisas, mas muitas pessoas foram deixadas para trás", acrescentou Guterres. No entender do português é isso que explica não só a tendência para o encerramento de fronteiras na Europa, mas também o recrudescimento de fenómenos populistas e extremistas em muitos países do Velho Continente.
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António Guterres lamenta que o optimismo dos anos 1990 esteja agora a ser substituído por uma "agenda de soberania nacional que está a ganhar terreno". "Em 2016 testemunhamos uma grande deterioração" dos valores até há pouco considerados adquiridos como são exemplo o crescente número de "fronteiras a serem fechadas e de pessoas a serem rejeitadas": "é mesmo negado o direito às pessoas de serem refugiados", critica.
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Para Guterres verifica-se uma "muito séria deterioração das opiniões públicas em relação à necessidade de proteger os refugiados", sendo que a principal "vítima desta evolução das opiniões públicas são os próprios refugiados".
Possivelmente com os Estados Unidos como pano de fundo, Guterres lembra que "este exemplo começou no mundo desenvolvido, especialmente na Europa e agora está a expandir-se ao resto do mundo".
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Como tal o ex-líder do Alto Comissariado das Nações Unidas para os refugiados (ACNUR) define como "crucial restabelecer a integridade do regime de protecção internacional" e revalorizar os valores. Guterres deixa um conselho aos políticos: "mais cedo ou mais tarde os políticos perdem uma eleição" por isso "o mais importante é defendermos e preservarmos os valores". Para o fazer o português diz ser "absolutamente essencial criar mecanismos" de realojamento, instalação e gestão de refugiados e "restabelecer a integridade do sistema de protecção legal dos refugiados".
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"Não gosto de usar a expressão crise europeia dos refugiados"
Apesar de o mote para esta conferência se prender com a procura de respostas para enfrentar as crises migratória e dos refugiados na Europa, António Guterres fez questão de sublinhar que "não gosto de usar a expressão crise europeia dos refugiados".
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Para o futuro líder da ONU este é um problema global que carece de uma resposta também ela global e interdependente. Uma vez que "se não enfrentarmos seriamente este problema pagaremos um enorme preço" ao nível securitário e também humanitário.
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Nesse sentido Guterres defendeu que "sem migração a sociedade europeia não seria sustentável" pelo que "seria bom reconhecer que [a migração] está cá e veio para ficar". O antigo líder do ACNUR apela, portanto, a um "forte compromisso em integrar os refugiados nas sociedades em que são recebidos".
"Assim como a migração é inevitável, é inevitável que a sociedade mundial seja multi-étnica, multicultural e multireligiosa", resume.
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Sem esquecer o conflito na Síria, que contribui para que se verifique o número "recorde de deslocados desde a Segunda Guerra", António Guterres sustentou que "a comunidade internacional falhou perante os refugiados sírios". A atitude adoptada por muitos líderes europeus estava claramente na mira do português.
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