Exportações de relógios suíços caem 17% com impacto da China e tarifas dos EUA
O recuo atinge marcas como Swatch, Rolex e Patek Philippe, num setor que enfrenta ventos contrários e incertezas nas negociações entre Berna e Washington.
As exportações de relógios suíços registaram em agosto uma queda acentuada, refletindo não só a debilidade da procura na China como também o impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos. Os envios caíram cerca de 17% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Federação da Indústria Relojoeira Suíça, citados pela Bloomberg.
Os dois maiores mercados da indústria helvética sofreram perdas expressivas: as vendas para a China recuaram 36% e para os EUA caíram 24%. A quebra foi agravada pelo facto de muitos fabricantes terem antecipado exportações nos meses de abril e julho, tentando mitigar os efeitos da tarifa norte-americana de 39%, que entrou em vigor a 7 de agosto.
O imposto definido por Washington é o mais elevado aplicado a uma economia desenvolvida e afetou duramente os exportadores suíços. As vendas ajustadas para os EUA caíram 22% em agosto face a julho, provocando um estreitamento do défice comercial norte-americano com a Suíça para 2,06 mil milhões de francos suíços, o segundo nível mais baixo desde 2020.
As dificuldades não poupam os principais grupos do setor, como Richemont, Swatch e LVMH, nem as casas independentes de prestígio, incluindo Audemars Piguet, Patek Philippe e Rolex. As ações da Swatch chegaram a cair 2,1% e as da Richemont recuaram 0,7% nas primeiras negociações após a divulgação dos dados. Jean-Philippe Bertschy, analista do Vontobel, afirmou em nota citada pela Bloomberg que “o recuo generalizado sublinha os formidáveis ventos contrários que a indústria relojoeira suíça continua a enfrentar”.
Ainda que algumas marcas tenham sinalizado sinais de resiliência nos EUA e uma ténue estabilização na China, os números de agosto “negam em larga medida esses sinais”, acrescentou o analista.
Apesar do choque, a economia suíça conseguiu, no global, amortecer parte do impacto graças a maiores exportações para países europeus, como França, Áustria e Polónia, bem como para o Canadá e México. No conjunto, as exportações totais do país recuaram apenas 1% face a julho.
As negociações entre Berna e Washington prosseguem, embora ainda sem resultados concretos. O secretário do comércio norte-americano, Howard Lutnick, disse recentemente que os EUA irão “provavelmente conseguir fechar um acordo com a Suíça”, mas não avançou prazos.
Enquanto isso, alguns fabricantes tentam responder de forma criativa ao novo ambiente de mercado. Segundo a Reuters, a Swatch lançou uma edição especial chamada “What if...tariffs?”, vendida apenas na Suíça, com os números três e nove invertidos no mostrador. Esta é uma referência direta aos 39% de tarifas impostas pelos EUA. O modelo, que custa 139 francos suíços (cerca de 149 euros), tornou-se um sucesso imediato, com a empresa a reportar elevada procura e atrasos nas entregas.
A marca sublinhou que o relógio terá vida curta: deixará de ser comercializado assim que Washington reduzir ou suspender as tarifas sobre a Suíça. “Foi criado como uma “piscadela de olho”, mas também como um sinal de alerta ao governo suíço”, disse um porta-voz da Swatch à Reuters.
A disputa comercial insere-se num quadro mais amplo de tensões comerciais e pressões políticas. A administração norte-americana justificou a tarifa com o elevado défice comercial com a Suíça e insiste em incluir o setor agrícola nas negociações. No entanto, este é um ponto sensível para o governo suíço, que continua a resistir a uma maior abertura do mercado interno a carne e aves norte-americanas.
Para já, a indústria relojoeira enfrenta uma conjuntura difícil, marcada pela contração nos dois principais mercados e pela incerteza sobre as negociações comerciais. Mesmo os segmentos de luxo que pareciam mais resistentes começam agora a sentir de forma clara o peso das tarifas e da desaceleração da procura global.
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